sábado, 19 de junho de 2010



20 de junho de 2010 | N° 16372
MOACYR SCLIAR


Odeio futebol

Há muita gente no Brasil que, por diferentes motivos, não suporta o chamado “esporte bretão”

No Brasil, o futebol é uma paixão nacional. Por causa disso, tendemos a pensar que todo mundo gosta desse esporte.

Pois não é bem assim. Em busca de opiniões a respeito, contra ou a favor, ocorreu-me entrar no Google e digitar duas palavras: “Odeio futebol”. Façam isso, e vocês obterão nada menos de 288 mil referências. Ou seja, há muita gente que não é exatamente fã do chamado esporte bretão.

E essas pessoas chegam até a se associar para expressar seu desagrado. Descobrimos que Odeio Futebol é o nome de uma “comunidade criada como resposta à Ditadura Futebolística aonde (sic) somos bombardeados diariamente e principalmente nos finais de semana, elevando (sic) a qualidade televisiva a um grande lixo.

Somos obrigados desde o nascimento a gostar de futebol, se não gostamos somos excluídos. Dizer que futebol é patrimônio do Brasil é uma grande imbecilidade, o patrimônio deveria ser a Educação e a qualidade de vida. Chega de Pão e Circo!” E a proclamação termina com uma frase de Millôr Fernandes: “O futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da mídia”.

A comunidade “Odeio futebol” nos faz lembrar a Liga Contra o Futebol, fundada pelo grande escritor Lima Barreto em 1919. Para ele, o esporte era coisa do colonialismo inglês, uma atividade racista (de fato, jogadores negros foram eliminados da seleção que em 1921 foi jogar na Argentina).

Num blog, o autor lista os 10 motivos pelos quais odeia futebol. As regras são complicadas demais, 90 minutos é muito tempo, aborrece-lhe o fato de associar um esporte à brasilidade; e, ah sim, não gosta do Galvão Bueno. Mas lá pelas tantas confessa as verdadeiras causas de seu ódio: “Sou um perna de pau convicto, sempre fui o último a ser escolhido, nunca fiz um gol bonito.” Ou seja: frustração pura e simples.

A mesma franqueza anima Cristiana Soares, carioca, jornalista e escritora. Em seu blog ela diz: “Invejo os homens. Não pelo pênis, mas porque eles não têm angústia. Eles têm o futebol. Você já viu um homem na frente de uma TV assistindo a um jogo? Eu não só vi, várias vezes, como tentei passar na frente.

Entre ele e a tela. Nua. Tudo bem, só de calcinha, vai. Rebolei pra cá, rebolei pra lá. E nada. Espelho sem aço. Mulher invisível. Ele jogava os ombros para um lado e para o outro, cabeça para cima, para baixo, só me driblando, enquanto os olhos permaneciam fixos como os de um hipnotizado. Ai, como eu invejo os homens. Eles têm onde canalizar a agressividade.

Enquanto nós gritamos histericamente, falamos sem parar, contamos tudo o que aconteceu com a gente durante o dia, a raiva que temos do nosso chefe, a vontade de mandar tudo à merda, eles não despendem energias com picuinhas do cotidiano.

Chegam em casa, tomam um banho, vestem a camiseta com furinhos, sentam no sofá, suspiram felizes e sintonizam no sei-lá-quem versus sei-lá-quem-mais. Pra que se preocupar com as agruras do mundo?”

Boa pergunta. Claro, a Cristina esqueceu as agruras do futebol, que não são poucas. Mas isso é assunto para outro blog.

Leitores brilhantes não faltam para este colunista.

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