terça-feira, 15 de junho de 2010



15 de junho de 2010 | N° 16367
PAULO SANT’ANA


Abaixo a vuvuzela!

Estou tonto com a vuvuzela. O mundo inteiro está tonto com a vuvuzela.

Como é que permitem esse som infernal que inunda todos os lares do mundo? Mas que esdrúxula cornetagem!

Está certo que faz parte da cultura africana esse maldito instrumento, é intrínseco aos costumes locais.

Mas o que nós temos a ver com isso? Se fizessem parte dos costumes sul-africanos os apitos, a Fifa permitiria que eles ficassem apitando os jogos inteiros?

Tem-se de acabar com essa vuvuzela, enquanto é tempo.

Inicialmente, se pensou que a vuvuzela iria atormentar só os jogos da África do Sul. Tudo bem, seriam só três ou quatro jogos.

Agora se vê que a vuvuzela vai compor os 64 jogos, não precisa jogar a África do Sul. Em todos os jogos, aparecem e vão aparecer essas malditas cornetas.

Só agora nos apercebemos de que dois dos cinco sentidos humanos são usados para captar as transmissões esportivas: a visão é fundamental para a televisão, mas vimos também com esta Copa que a audição é transcendental.

E a audição de vários bilhões de espectadores em todo o mundo está prejudicada, infernizada pela vuvuzela.

As emissoras de televisão e rádio pagam uma fortuna colossal para transmitir os jogos da Copa do Mundo. Isso exige certamente que os organizadores entreguem às emissoras o som limpo para ser retransmitido para o mundo inteiro.

Mas o que se ouve é só a vuvuzela. E não é som de fundo, é som real, principal e dominante da vuvuzela, uma zoeira insuportável.

Agora já se sabe, quando sua mulher estiver terrivelmente faladeira ou xingando-o, tenha uma vuvuzela à mão e acabe com ela.

Como é que permitem? O Comitê da Copa reuniu-se anteontem extraordinariamente para examinar se iria proibir a vuvuzela.

Para nossa imensa decepção, decidiram que a vuvuzela vai continuar.

Vai continuar porque decerto os tímpanos do comitê são mais resistentes do que os nossos.

Eu já estou com medo de assistir aos jogos da Copa. Volta e meia, tiro todo o volume da televisão e do rádio.

Não há quem consiga ver um jogo e raciocinar sobre ele – ou até mesmo discuti-lo em seu decurso com familiares ou amigos – tendo a vuvuzela atordoante a ferir nossas cócleas, esmigalhando as partes anteriores dos dois labirintos, influindo até mesmo em nosso equilíbrio.

Deveriam chamar os africanos e dizer-lhes com jeitinho que não vai poder continuar aquela geringonça a atormentar o mundo inteiro.

Qual é o significado, pelo amor de Deus, me expliquem, qual é o sentido da vuvuzela? Pra que serve? O que se lucra com ela despejando sons desagradáveis e ininterruptos por todo o planeta?

Ontem, vi um jogador holandês, depois do apito do árbitro, continuar com a jogada. O árbitro advertiu-o de que não mais permitiria esse deslize e o jogador respondeu com gestos, apontando para seus ouvidos, nitidamente atribuindo à vuvuzela a sua confusão.

Não bastassem bilhões de pessoas incomodadas com a vuvuzela nas televisões de todo o mundo, a grotesca geringonça está agora a prejudicar o andamento dos jogos.

Acabem com isso, depressa, pelo amor de Deus!

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