domingo, 20 de junho de 2010


VALDO CRUZ

Turma do "tô nem aí"

BRASÍLIA - A sensação é de perda de controle no Congresso. O que entra na pauta e pode render voto tem aprovação praticamente garantida. Com apoio suprapartidário. De governistas e da oposição.

Perdeu-se, quase por completo, o senso de responsabilidade. O que vale é a luta pela sobrevivência do mandato. Daí que pouco importa se os projetos em votação geram rombo nas contas públicas. O que importa é se rendem votos.

Vozes sensatas praticamente não são ouvidas nos últimos dias no Congresso. Quem vota com sensatez e não de olho nas urnas vira alvo instantâneo de hostilidade dos grupos de lobbies que tomam conta dos corredores do Legislativo nesses tempos de eleição.

São tantos que fica difícil transitar pela Casa. Grupos atentos ao fato de que os parlamentares ficam muito mais sensíveis às pressões quando são obrigados a enfrentar as urnas. Tão sensíveis que coerência vira produto raro.

Veja o caso do fator previdenciário. Idealizado no governo FHC para desestimular a aposentadoria precoce, sua extinção foi aprovada com votos a favor de tucanos e democratas -que o criaram. E também de petistas e peemedebistas.

Voz quase solitária contra essa farra eleitoral, o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP) recentemente votou contra um aumento para servidores da Câmara enfiado na pauta em final de sessão. Justificou, como todos ali deveriam ter feito, que desconhecia o projeto.

Ex-líder do governo FHC na Câmara, Madeira avalia que a farra atual é fruto da fragilidade do Congresso, que transforma o parlamentar num mero despachante. Ele defende a aprovação de um mecanismo que proíba projetos que geram despesas em ano eleitoral.

Seria de grande utilidade. Afinal, se todos os projetos em tramitação no Congresso fossem aprovados, a conta superaria R$ 100 bilhões. Quem banca? O dinheiro dos eleitores. Só que a maioria não está nem aí para isso. Só quer se reeleger.

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