quarta-feira, 30 de junho de 2010



30 de junho de 2010 | N° 16382
MARTHA MEDEIROS


Lady Gagá

Existe uma cantora com visual bizarro que, com apenas 24 anos, já vendeu 10 milhões de CDs e alcançou a marca impressionante de 180 milhões de visitas aos seus clipes no YouTube. Você sabe de quem estou falando, Lady Gaga, a original.

O que eu e ela temos em comum? Também ando ligeiramente bizarra, tanto que poderia adotar para mim o mesmo nome artístico, só que com acento agudo no último a. Lady Gagá.

Não saio por aí com uma lagosta na cabeça, como a referida popstar: minha única excentricidade é não saber mais quem é quem. Outro dia estava no súper, prosaicamente empurrando meu carrinho de compras, quando uma moça simpática passou por mim em sentido contrário e disse: “Bom dia, vizinha”.

Respondi com o melhor bom-dia que já ofereci a uma estranha, e não caí em prantos por uma questão de adequação, já que não convém chorar em supermercados, nem mesmo quando você não consegue mais ler os prazos de validade sem óculos. E tampouco com óculos.

Então ela morava no mesmo prédio que eu? Maravilha. Já devo tê-la encontrado uma dúzia de vezes no elevador, na garagem, na portaria, na reunião de condomínio, e não a reconheci. E ainda tenho a pretensão de que me julguem uma pessoa simpática.

Minhas amigas dizem que tenho que aceitar a realidade: sou considerada blasé por muitas pessoas, pois não as cumprimento na rua. E não adianta alegar que sou a pior fisionomista do globo terrestre, meus oponentes não querem saber de esclarecimentos. Só quem me conhece intimamente sabe que nasci com esse defeito de fabricação e me perdoa.

E quem me conhece superficialmente não percebe nada e por isso não me acusa – até que me encontre pela segunda vez e eu não o cumprimente.

Sim, já me sugeriram a mesma solução que você talvez tenha pensado agora: então por que essa criatura não cumprimenta todo mundo? Se eu estivesse interessada em me candidatar a presidente, quem sabe.

Já escrevi sobre esse assunto e volto a ele para tentar um habeas corpus, qualquer coisa que amplie meu prazo de soltura, antes que a Interpol me capture e me extradite para meu planeta de origem.

A verdade, nada além da verdade, é que eu tenho deficiência para reconhecer pessoas fora do ambiente em que as conheci, então se jantei num restaurante com um casal pela primeira vez, só irei lembrar deles no mesmo restaurante, e nunca na saída do Beira-Rio, e se fui apresentada a algum editor durante um evento literário, a chance de eu reconhecê-lo num ponto de táxi é menos que zero, e, querida vizinha, fora do nosso elevador social, eu estava em franca desvantagem, compreenda.

Sabedores disso, sigam confiando na minha educação e simpatia, mesmo que eu aparente ser uma ratazana insensível.

Tenham piedade dessa lady que já mal reconhece a si própria no espelho.

Lindo dia para vc. Aproveite a quarta-feira

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