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terça-feira, 15 de junho de 2010
15 de junho de 2010 | N° 16367
L. F. VERISSIMO
Regimes fechados
Escrevi ontem que as potências futebolísticas não costumam estrear bem nas Copas. A Alemanha demoliu a minha incerta tese. Estreou muito bem. Assustadoramente bem. Fez quatro numa Austrália perplexa e foi a máquina precisa dos seus melhores dias, o que surpreende, porque é um time novo, misturado com alguns jogadores conhecidos apenas para assegurar o respeito.
O atacante Thomas Müller, por exemplo, recém apareceu no Bayern Munich. Não é novo só em Copa, é novo no futebol profissional. Jogou com a naturalidade e a audácia de um veterano. E que jogador aquele Schweinsteiger. É da velha escola dos centromédios clássicos, que organizam as defesas e alimentam os ataques com a mesma clarividência e a mesma imposição.
Falou-se muito na falta que faria o Michael Ballack no meio-campo da Alemanha, mas sua ausência obrigou o Schweinsteiger a ser Ballack e meio. A Alemanha pulou na frente de todo mundo nesta Copa. Mas é claro que ainda pode comprovar outra tese incerta, segundo a qual quem começa muito bem termina mal. Vamos torcer para que esta Alemanha aparentemente invencível tropece na Sérvia, caia diante de Gana, vá para casa e não nos assuste mais.
Outra potência, a sempre frustrada seleção da Holanda, que há anos só consegue ser princesa e Miss Simpatia das Copas em que participa, estreou ontem contra a Dinamarca e foi mais ou menos.
Quem diria que um dia se chamaria um jogo da Holanda, que tradicionalmente dá espetáculo mesmo quando não ganha, de enfadonho? E não há outra palavra para descrever Holanda 2 x 0 Dinamarca, a não ser “enfadonho”. A palavra, que lembra algo turvo e emaranhado ou xingamento de fanho, diz exatamente o que foi o jogo.
Pelo que se viu, ainda não será desta vez que a Holanda chegará a Miss Mundo. Mas, de novo: foi apenas uma primeira impressão.
E hoje temos a estreia do Brasil, ou o encontro dos dois regimes mais fechados do mundo atualmente, o da Seleção e o da Coreia do Norte. Sabe-se muito pouco sobre um e outro. Da Coreia do Norte sabemos que é uma ditadura hereditária, e que eles têm a bomba. Todas as outras notícias de lá são sonegadas ou controladas.
Da Seleção Brasileira, só se sabe o que se vislumbra dos treinos secretos e o que a direção deixa sair. A única coisa certa é que a Seleção, ao contrário da Coreia do Norte, não tem a bomba, senão já a teria usado contra a imprensa há muito tempo.
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