terça-feira, 15 de junho de 2010



15 de junho de 2010 | N° 16367
MOACYR SCLIAR


Os Dungas

Estive com Dunga uma vez, e em circunstâncias curiosas. Ambos disputávamos uma partida, não de futebol, mas de basquete, num evento promovido pela Associação Cristã de Moços. Que eu lembre, a atuação dele não foi espetacular – claramente o basquete não era sua praia (nem a minha, por sinal), mas recordo sua cordialidade, seu bom humor.

O que remete a seu apelido, e este, por sua vez, nos faz evocar a história dos sete anões. Na versão atribuída aos irmãos Grimm, Branca de Neve foge da rainha malvada e vaidosa e entra na floresta.

A partir daí, muitos de nós somos guiados pela versão cinematográfica, o famoso desenho animado de Walt Disney. Seguindo os graciosos animaizinhos da floresta, a moça chega a uma casinha onde tudo é miniatural, mesas, cadeiras, camas. E tudo muito esculhambado, muito sujo. Ajudada pelos bichos, a virtuosa Branca de Neve arruma a casa toda e vai dormir. Ao anoitecer, chegam os donos da casa, os sete anões.

Retornam de seu trabalho – e vejam a coincidência – numa mina de diamantes, como as muitas que tornaram célebre a África do Sul, onde o Dunga treinador agora está. Na versão de Disney, os anões são inesquecíveis, tanto pela aparência como pelos apelidos (na história original, nem apelidos, nem nomes, existiam). Assim, temos o Soneca, em quem um médico diagnosticaria hipersonia, em resultado da qual está sempre dormindo.

Dengoso é sentimental, derrete-se de emoção. Zangado, ao contrário, é um anão de mal com a vida, enquanto Feliz está sempre numa boa. Atchim é um claro portador de rinite alérgica, está sempre espirrando; e o Mestre, fazendo jus ao nome, é o sábio do grupo, o guru dos anões.

Sobre o Dunga. Ele tem algumas peculiaridades: é o único que não usa barba e o único que não fala. Na versão de Disney, Dunga é ingênuo e atrapalhado; usa uma túnica grande demais, na qual a todo instante se embaraça.

Mas isto bem pode ser um disfarce. Dunga é, em realidade, um original contestador. A contestação, a independência, explicam a recusa à barba que, numa época, e para certos grupos, era uma questão de dignidade, uma forma de impor respeito. Dunga não precisa disso, como não precisa falar. Ele é quieto, daqueles quietos astutos, daqueles quietos que não falam porque sabem que o segredo é a alma do negócio.

Dunga, nosso treinador, não usa barba, como o Dunga do filme. Mas, diferente do Dunga do filme, não usa aquela túnica. E fala; quando entrevistado, dá declarações, ainda que, às vezes, controversas. Isso não importa, claro. Importa é a estratégia que bolou, as diretrizes que transmitiu a seu time. Podemos, e devemos, ter a esperança de que Dunga, como seu homônimo, saiba o caminho da mina dos diamantes. No caso, o caminho para a taça que vale para nós todos os diamantes do mundo.

Vai lá, Dunga. Vai lá, Brasil.

Nenhum comentário: