segunda-feira, 14 de junho de 2010



14 de junho de 2010 | N° 16366
L. F. VERISSIMO


Céu e inferno

Foi um sábado de dois goleiros: o inglês Green, que não conseguiu catar a galinha que escapou das suas mãos e entrou no gol, e o nigeriano Enyeama, que levou um gol da Argentina, mas venceu seu duelo particular com o Messi, pegando tudo que o baixinho mandou na sua direção.

Os goleiros são assim, vivem entre o sublime e o ridículo. São os únicos jogadores em campo sem tempo e espaço para reparar um erro, salvo quando conseguem pegar a galinha fugitiva pelo rabo, mas nenhum outro jogador em campo dá espetáculo como ele, quando é seu dia de ser espetacular.

Os goleiros pertencem a outra espécie. Até o seu céu e o seu inferno são diferentes dos nossos.

Outro espetáculo do sábado foi o do Maradona, com seu grande bigode sarraceno, fazendo um balê de angústia, revolta e celebração na beira do campo, durante todo o jogo. Ele tinha mais razões para dançar de preocupação do que de alegria. Não só o goleiro nigeriano estava pegando todas como os pequenos imarcáveis, Messi e Tevez, não estavam furando a defesa adversária como o esperado.

A tática Argentina era fazer a bola rodar até que um dos dois pudesse ser lançado. Não deu resultado. O gol argentino foi de bola parada. Nas suas escapadas área a dentro, Messi passava por dois, por três, por quatro, mas sempre vinha um quinto, e quando o quinto também ficava para trás havia o Enyeama.

Com os jogadores argentinos não proporcionando o espetáculo desejado, as câmeras passaram todo o tempo procurando o Maradona na beira do campo. Maradona não as decepcionou.

A Inglaterra veio anunciada como umas das potências desta Copa. Empatou por causa do seu próprio goleiro, certo, mas não jogou como uma potência contra os Estados Unidos.

Na verdade, de todas as seleções que já estrearam, só jogaram bem, na minha opinião, a Coreia do Sul e Gana, que derrotaram a Grécia e a Sérvia. Não deu para ver Argélia e Eslovênia, e estou escrevendo antes de Alemanha e Austrália, portanto antes de ver uma das favoritas em ação. Mas as potências não costumam estrear bem nas Copas, e o que acontece mais é o contrário: as que estreiam bem desaparecerem.

Nunca esqueço da seleção da Dinamarca, que estreou na Copa de 86 no México dando de cinco em alguém e preconizando, segundo alguns, uma nova maneira de jogar futebol – e não chegou nem em quarto.

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