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quarta-feira, 30 de junho de 2010
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Dominó de greves na USP
SÃO PAULO - A creche central da USP, perto da entrada principal da Cidade Universitária, estava às moscas na hora do almoço. Não havia ninguém no playground, adulto ou criança. Balanços de pneus velhos, grama por cortar, restos de decoração de festa junina pendurados nas árvores e brinquedos vazios conferiam a tudo um aspecto triste, de parque abandonado.
Na porta da creche, fechada pelo segundo dia consecutivo pelo sindicato dos funcionários da USP, uma grande cartolina trazia dizeres como "Serra e Rodas a favor da fome". É uma alusão à decisão do reitor, João Grandino Rodas, de não pagar o salário a cerca de mil funcionários em greve desde 5 de maio.
No dia 8 de junho, coadjuvados por alguns estudantes, grevistas mascarados invadiram a reitoria, onde permanecem acampados. Hoje, ameaçam invadir e paralisar os serviços do CCE, o Centro de Computação Eletrônica, onde são processadas informações da rotina burocrática e administrativa da USP.
Trata-se de uma escalada insana -a reitoria, a creche, a "casa das máquinas". Não há mais como separar reivindicação de sabotagem, protesto de armação ilimitada.
Desde 1994, os funcionários da USP já fizeram 11 greves e ficaram parados 388 dias, como mostra hoje a Folha. Houve paralisações justificáveis? Sem dúvida. Mas o Sintusp desmoralizou o direito à greve. Inventou um grevismo profissional e faz dele um modo de vida -dane-se a maioria. Quanto menos representativos, mais truculentos são.
Sabemos quem paga o pato. Os que dependem do bandejão para comer, dos circulares para se locomover e das creches para poder trabalhar. Já seria muito, mas
não é só.
As aulas não foram interrompidas, o que à primeira vista dá um certo ar de normalidade ao campus. Mas a Edusp, por exemplo, está fechada. Ninguém pode entrar no prédio onde fica a editora da universidade, refém dos piqueteiros. Ontem, eles estavam lá, de plantão. Jogando aquele dominó.
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