sábado, 19 de junho de 2010



19 de junho de 2010 | N° 16371
PAULO SANT’ANA


Fraude nos concursos

Oconcurso público, a forma mais justa, honesta, proporcional e adequada de ingresso no serviço público e de acesso ao êxito profissional, acaba de ser manchado por uma quadrilha que fraudava os testes e acaba de ser desbaratada pela Polícia Federal.

A quadrilha vazou e vendeu provas para 53 candidatos ao concurso de agente da Polícia Federal e 26 candidatos no exame da OAB, mais, imaginem, 41 candidatos ao concurso da Receita Federal em 1994.

Há, ainda, indícios de fraude nos concursos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

A quadrilha conseguia os cadernos das provas aliciando pessoas que tinham acesso a eles; contratava como professores de cursos pessoas que já sabiam as perguntas da prova da OAB; usava pontos eletrônicos para passar respostas; e contratava pessoas para fazer as provas no lugar dos candidatos.

Sofisticadíssima e organizadíssima ação. Porém, dos 53 concorrentes que compraram as provas para o concurso de agente da Polícia Federal, apenas seis atingiram a última fase, tendo sido imediatamente excluídos do concurso.

Os 26 aprovados acusados de comprar as provas para o exame da OAB deveriam ser ouvidos a partir de quinta-feira pela Polícia Federal.

A quadrilha cobrava R$ 50 mil por cada prova vazada na OAB e, em dólares, US$ 93 mil por cada prova da Polícia Federal, além de, pasmem, US$ 279 mil para a prova do concurso de auditor da Receita, um dos mais cobiçados cargos do serviço público.

Diplomas e outros documentos falsos custavam R$ 30 mil, a quadrilha já estava pretendendo vazar a prova para delegado da Polícia Federal, com a cobrança de US$ 100 mil por cada pretendente.

Os 41 aprovados por intermédio de fraude no concurso da Receita Federal em 1994 foram excluídos por indícios de irregularidade na época, mas entraram com ação na Justiça Federal de São Paulo e foram reincorporados e indenizados em cerca de R$ 3 milhões, que seriam repartidos com o grupo.

Entre os beneficiários, estão a ex-mulher, a nora, o filho e amigos do filho do dono de uma universidade de São Paulo, apontado como líder da quadrilha.

A Polícia Federal não divulgou os nomes dos envolvidos e da instituição.

Ou seja, uma universidade de São Paulo comandava toda essa lamentável e escandalosa manobra.

Eu só fico pensando nos 5 milhões de brasileiros que estudam para os concursos públicos.

E nos milhares que passam honestamente nos concursos públicos, são admitidos e de repente, sem o saberem, têm a seu lado colegas que fraudaram os concursos.

Como se leu acima, há muito tempo que isso vem acontecendo. Agora é que a Polícia Federal conseguiu desmascarar a quadrilha.

Nada de mais desanimador que essa notícia. O concurso público é a mais democrática forma de apuração do mérito das pessoas para integrar importantes funções do serviço público.

Essas provas, vendidas a muitos candidatos, tinham de ser mantidas em segredo maçom pelos organizadores dos concursos.

Como é que vazam? A Polícia Federal precisa exterminar esse bando e ajudar o serviço público a munir-se de recursos que possam vir a tornar os concursos sem nenhuma chance de vulnerabilidade.

É muito triste e grave isso.

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