quinta-feira, 24 de junho de 2010



24 de junho de 2010 | N° 16376
PAULO SANT’ANA


Bacia das almas

Num trabalho meticuloso do Henrique Erni Gräwer e do Moisés Mendes, foram compiladas as minhas crônicas mais íntimas e se realizou o livro Eis o Homem, da RBS Publicações, onde vazei minha dor e alegria supremas.

O livro foi um projeto de Pedro Haase Filho e editoração de Wildstudio Design.

E, no próximo dia 22, estarei concedendo os autógrafos na Livraria Cultura do Bourbon Country.

É o terceiro livro deste colunista, que teima em nunca escrever o último.

Nós, os sul-americanos, somos espoliados pela Europa, que nos pirateia os maiores craques, levando-os para jogar em seus clubes ricos.

Os grandes clubes da Itália, Espanha, Alemanha, França e muitos dos países árabes e asiáticos coam os nossos melhores craques e transportam essa nata do futebol americano para as lonjuras.

A Copa do Mundo tem, no entanto, este caráter reabilitador: torcedores do Chile, do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai, durante 30 dias e 64 jogos, reencontram-se na televisão com seus craques que foram por este curto período de tempo resgatados da pirataria e levados para jogar em suas seleções.

Já foram considerados os melhores jogadores do mundo Maradona, Ronaldo Nazário, Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Messi, autenticando o prestígio americano em formação de craques.

Pena que a Copa do Mundo dure tão pouco, mas é tão grande a qualidade dos jogadores sul-americanos, que os países daqui do Hemisfério Sul estão se candidatando seriamente a ingressar nas oitavas de final da Copa do Mundo.

A Copa do Mundo é a vingança dos espoliados. Pena que dure tão pouco.

Porque depois dela tudo fica novamente à feição dos piratas, que até os fins dos tempos praticarão a rapinagem dos nossos maiores craques.

Enquanto não se fizerem leis que reprimam esse sequestro infame do talento, sofreremos com a distância dos nossos maiores ídolos.

E ficamos destinados a assistir, depois da Copa do Mundo, ao nosso campeonato nacional de times emasculados, a nossa bacia das almas.

Que jogador esse Lionel Messi! Que jogador! Ele ainda não mostrou nesta Copa todo o seu talento, mas a gente nota em suas movimentações que ele tem o prodígio da genialidade.

Tão pequenino, tão frágil, mas com que naturalidade ele se embarafusta nas defesas contrárias, tem uma apurada visão espacial e sempre passa a bola com acuidade.

Além disso, da sua perna canhota são arremessados potentes e certeiros disparos, um deles foi encontrar-se com a trave no jogo contra a Grécia.

Messi faz-nos imaginar, ele que é o centro nervoso da equipe, que esta Copa do Mundo está talhada para ser da Argentina, e Messi parece ser destinado a ser o grande craque do certame: às vezes, as coisas não se dão assim no futebol, mas estas parecem ser, hoje, as alvíssaras.

Mas o Brasil é obstáculo sério para a Argentina chegar ao título. No entanto, não há sequer um só jogador brasileiro que chegue aos pés de Messi.

Que jogador!

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