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domingo, 27 de junho de 2010
PAULO VINICIUS COELHO
Telhado de vidro
Não estranhe campeões do passado caindo precocemente. A Copa é habitat natural de zebras
A ARGENTINA leva a campo hoje um tabu. Desde o gol de Caniggia contra o Brasil, nas oitavas de final da Copa de 1990, não vence um mísero mata-mata em Mundiais durante os 90 minutos.
Depois do Brasil, para chegar à decisão em Roma, os argentinos venceram Iugoslávia e Itália nos pênaltis. Em 1994, caíram nas oitavas contra a Romênia. Em 1998, venceram a Inglaterra nas oitavas, nos pênaltis, e perderam para a Holanda, nas quartas. Em 2002, eliminação na primeira fase. Há quatro anos, queda nas quartas contra a Alemanha depois de vencer o México na prorrogação.
A situação da Alemanha é inversa. Só em 1938 foi eliminada tão precocemente quanto acontecerá se perder hoje da Inglaterra. É uma gigante.
Igual a ela, só o Brasil, que caiu nas oitavas em 1990, na primeira fase em 1966 e na pré-história das Copas, em 1930 e 1934, quando tinha equipes rachadas. No Uruguai, por cisão entre cariocas e paulistas. Na Itália, entre profissionais e amadores.
Não estranhe uma Copa em que campeões do passado caem precocemente. A verdade é que as zebras passeiam em seu habitat natural. Não a África. As Copas. Difícil é um Mundial com quatro grandes nas semifinais. Em 2006, Portugal chegou. Em 2002, Turquia e Coreia do Sul. Croácia em 1998, Bulgária em 1994. É preciso voltar a 1990 para ver Inglaterra x Alemanha e Itália x Argentina entre os quatro melhores.
A queda italiana causa um choque, exige reflexão, mas só é inédito o último lugar na chave. É a sexta eliminação da Azzurra na fase de grupos. Se você considerar a ausência em 1958, com queda contra a Irlanda do Norte nas eliminatórias, a cada três Copas a Itália dá um vexame.
A França só foi grande em três gerações. A de Kopa levou os Bleus ao terceiro lugar em 1958. A de Platini, às semifinais de 1982 e 1986. A de Zidane, às finais de 1998 e 2006.
A Inglaterra não é eliminada na etapa de grupos desde 1958, mas só chegou a duas semifinais, a menor quantidade entre os campeões mundiais.
A Argentina, que joga hoje seu tabu, deu vexame na primeira fase em 1934, 1958, 1962 e 2002, caiu nas eliminatórias em 1970 e ficou em terceiro lugar no grupo, avançando por índice técnico, em 1990 e 1994. Respeito é bom, todo mundo gosta. Mas só Brasil e Alemanha não têm telhado de vidro.
pvc@uol.com.br
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