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sábado, 26 de junho de 2010
27 de junho de 2010 | N° 16379
MARTHA MEDEIROS
O viagra feminino
A disfunção sexual masculina é, geralmente, física, enquanto que a da mulher é cerebral e emocional
Ainda não será desta vez que a pílula cor-de-rosa, contraponto ao comprimido azul que revolucionou a vida sexual de homens com disfunção erétil, será comercializada. O nosso viagra feminino, produzido a partir da droga flibanserin, prometia facilidade de lubrificação e maior interesse sexual da mulher, mas apresentou efeitos colaterais indesejáveis, como depressão, tontura e desmaios, e não foi aprovada pelo FDA, órgão americano que aprova e fiscaliza remédios e alimentos.
Analisando superficialmente, talvez isso confirme a velha máxima de que os homens são simples e as mulheres complicadas, ao menos quando se trata de sexualidade. E a razão é óbvia: a disfunção sexual masculina é, geralmente, física, enquanto que a da mulher é cerebral e emocional. Sem relaxamento, sem autoestima, sem romantismo e com a cabeça pilhada de preocupações, como ficar predisposta ao prazer?
Dizem que antes do movimento feminista, a qualidade das relações era insatisfatória por causa da repressão machista. Será? Nunca esqueço de uma tia minha que, do alto dos seus quase 80 anos, uma vez disse que essa história de mulher não ter orgasmo era coisa da modernidade, no tempo dela todo mundo tinha orgasmo e ninguém perdia tempo com essa conversa.
Faz sentido. O fato de hoje sermos donas do próprio nariz e demais partes do corpo ainda não nos tornou maduras o suficiente para relativizar essa cobrança de agir feito uma bombshell, a mulher explosiva e infalível.
Recebemos tantas referências de símbolos sexuais e escutamos tantos depoimentos pretensamente verídicos a respeito de noitadas das arábias que acabamos por nos sentir sempre abaixo da expectativa. Mulher brocha também.
Brocha mais pelo excesso de informação do que pela falta dela. É um avanço sermos livres e independentes, mas ainda precisamos aprender a obedecer apenas ao próprio desejo, e não ao desejo globalizado que invadiu o quarto de todas nós.
Não estou querendo dizer com isso que a disfunção sexual feminina seja um mito. É uma realidade para inúmeras mulheres, e para tratá-la existem desde géis vasodilatadores até excelentes psicoterapeutas, e a pílula cor-de-rosa um dia há de ajudar também.
Mas creio que, para se manter ativa e feliz, o ideal ainda é se sentir amada e desejada por um homem com quem se tenha afinidade física e, principalmente, deixar de se pautar pelas pesquisas que decretam quantas vezes e de que forma os casais “normais” transam.
O que está nos deprimindo, cansando e inibindo é essa idolatria do orgasmo, esse campeonato aberto de quem exibe o maior potencial erótico. É muita tensão pra pouco tesão.
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