sábado, 12 de junho de 2010



13 de junho de 2010 | N° 16365
MOACYR SCLIAR


Lembrando Jorge Amado

Uma série de eventos trazem o nome do escritor baiano ao noticiário

Nove anos após sua morte, em agosto de 2001, Jorge Amado volta a ser notícia. Na verdade, e como já veremos, o grande escritor nunca foi esquecido, ao contrário; mas agora, uma série de eventos trazem de novo seu nome para o noticiário.

O primeiro desses eventos foi a recente estreia de Quincas Berro dÁgua, o filme dirigido pelo baiano Sergio Machado. Contando com um roteiro de primeira linha (Paulo José, Marieta Severo, Mariana Ximenes, Vladimir Brichta, Milton Gonçalves, Othon Bastos entre outros) a película narra a história de um dos personagens mais famosos de Jorge, o ex-funcionário público Quincas Berro dÁgua, rei dos botecos, bordéis e gafieiras da Bahia, que é encontrado morto em sua cama.

Inconformados, os amigos levam o cadáver para uma última noite regada a festa e muita bebida, o que, como pode se imaginar, dá origem a mil confusões.

Em segundo lugar, tivemos, na última semana de maio, um grande seminário sobre a obra amadiana, realizado em São Paulo e em Salvador, e contando com nomes como Affonso Romano de Santanna, Alberto da Costa e Silva, Lilia Moritz Schwarcz, Daniel Aarão Reis, José Eduardo Agualusa, Flavio Moura, Myriam Fraga, José Castello.

A Companhia das Letras, que organizou o seminário, está reeditando toda a obra de Jorge Amado, com comentários de escritores brasileiros (a mim tocou O Menino Grapiúna, belo livro de memórias).

Nascido em Itabuna, em 1912, Jorge Amado, foi um dos mais famosos escritores brasileiros de todos os tempos. Numa época, seu nome era sinônimo da literatura brasileira; era um excelente narrador (como Erico Verissimo, seu contemporâneo), contava histórias pitorescas de uma exótica Bahia e era um autor profundamente engajado do ponto de vista político, um comunista militante.

Depois se desiludiu e passou a fazer uma ficção mais leve, mais picaresca, da qual são exemplos Tieta do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela, Tereza Batista Cansada de Guerra, Dona Flor e Seus Dois Maridos, além do próprio Quincas. Foi traduzido em 55 países, tornou-se membro da ABL e ganhou numerosos prêmios, mas não o Nobel. Como ele próprio me disse uma vez, desconsolado: Aqueles caras não vão esquecer o meu passado stalinista.

Jorge Amado não era uma unanimidade. Muitos críticos torciam o nariz para o que consideravam o caráter “popularesco” de sua obra, além de um certo desleixo formal. Mas, para quem o conheceu, isso nada mais era do que uma expressão do ser humano amável e generoso que ele era. Jorge Amado gostava de gente.

Uma vez, em sua casa, vi uma cena inacreditável: um ônibus de turistas parou ali, dezenas de pessoas desceram, e foram entrando sem qualquer cerimônia. Pois a todos Jorge recebia com uma cordialidade admirável. E autêntica.

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