quinta-feira, 17 de junho de 2010



17 de junho de 2010 | N° 16369
CLAUDIA TAJES (INTERINA)


Vuvuzela de porto-alegrense

Reclamar da vuvuzela anda quase tão irritante quanto a própria vuvuzela. Mas é difícil evitar. Parece que a corneta do demônio, que vem tirando o prazer de assistir aos jogos da Copa pela TV, já enlouqueceu torcedores e jornalistas no grandioso Soccer City, de Joanesburgo. Há até quem comente, mas baixinho para não agravar a situação, que essa seria, inclusive, a causa do eterno azedume do Dunga.

Só que, no quesito barulho xarope, tem outro, bem mais corriqueiro, que inferniza tanto quanto a vuvuzela: a buzina. Maldito o dia em que resolvi me incomodar com a invasiva presença dela. Em poucos meses, desenvolvi aversão, depois fobia, e agora começo a perceber os sintomas de uma esquizofrenia paranoica delirante avançando a cada buzinaço.

E buzina-se por tudo: porque alguém cortou a frente do carro ou porque pareceu que ia cortar. Porque um pedestre está atravessando a rua ou porque o carro da frente parou para o pedestre atravessar.

Porque tem um cachorro, um ciclista, um skatista, uma galinha ou uma mãe com um carrinho de bebê no caminho. Porque um carro vai entrar na garagem, ou precisa sair dela. Porque o nosso time ganhou e porque o time deles perdeu.

A título de cultura inútil, pequenas observações sobre o tema. Os homens buzinam muito mais que as mulheres, talvez movidos por alguma associação sexual. É possível reconhecer qualquer marca de carro pela buzina. As motos buzinam em uma frequência capaz de provocar otite nos cães. Buzinas criativas, como a de vaca e a do supergalo, há muito saíram do mercado, acabando com o pingo de bom humor que havia na hora de buzinar.

Certo que o caríssimo vidro antirruído ajuda a atenuar o problema. Pena ser caríssimo. Mas o que resolveria mesmo, motoristas mais educados no trânsito, isso já é mais difícil de encontrar. Pelo menos, ao ligar a TV e ouvir as vuvuzelas, a gente tem a confortável sensação de que tudo podia ser pior.

Quer dizer, tinha.

Agora mesmo, da minha janela, acabo de ver um vendedor de vuvuzela bem ali, na sinaleira da esquina.

Cláudia Tajes substitui Luis Fernando Verissimo, que até 12 de julho tem sua crônica publicada no Jornal da Copa

Nenhum comentário: