quinta-feira, 24 de junho de 2010



24 de junho de 2010 | N° 16376
CLAUDIA TAJES (Interina)


Escondam as criancinhas

Tranquem os nenês em casa, deixem as mãos no bolso. Os candidatos a cargos públicos estão à solta pelos parques, pelas esquinas, pelas ruas. Cada vez mais cheios de amor para dar ao seus possíveis eleitores.

Domingo de sol na Redenção. Até outubro ou novembro, em caso de segundo turno, vai ser quase impossível andar pelos apertados caminhos do Brique. Não por causa das banquinhas, da multidão que passeia, dos indiozinhos que cantam e dançam, do homem com apito de gato, dos mágicos, dos bichos à espera de adoção, dos peruanos tocando Llegando Esta el Carnaval, dos pregadores religiosos, dos pitbulls conduzidos por seus pitdonos.

Aproveitar o Parcão lotado também vai ser mais difícil, ainda que sempre sobre um espacinho entre quem lagarteia com o chimarrão em punho, quem joga futebol, quem conversa, quem faz piquenique, quem lê, quem brinca, quem mama (os bebês, bem entendido), quem namora, quem ouve um radião no volume máximo, quem faz malabares, yoga, meditação.

É que, em época de eleição, a população desses lugares engrossa com a chegada dos candidatos e dos cabos eleitorais. Talvez nunca, em toda a sua vida, o cidadão comum se sinta tão amado: políticos não economizam sorrisos, abraços, afagos.

Crianças de todas as idades dificilmente escaparão de ter uma bochecha apertada. Engraçada também é a intimidade com que nos abordam. Às vezes, algum pergunta pela mãe que a gente já não tem, ou pelo marido que virou ex há tempos. Independentemente da nossa resposta, eles nunca perderão a pose.

O assédio é tão grande, que não dá vontade de ouvir as plataformas. Aquele monte de papel impresso no chão, que tão bem ilustra a expressão “botar dinheiro fora”, incomoda só de olhar. E quando um assessor pede o nosso e-mail para enviar o material de campanha? Seria o mesmo que oferecer o próprio número de telefone a um operador de telemarketing.

No fim das contas, superados os inconvenientes do período, espera-se que os melhores se elejam. Enquanto isso, com tanta mão pegando na nossa e tanta barba e bigode dos candidatos e, eventualmente, das candidatas, roçando no rosto da gente, haja creme com aloé vera e óleos essenciais para prevenir as assaduras.

Cláudia Tajes substitui Luis Fernando Verissimo, que até 12 de julho tem sua crônica publicada no Jornal da Copa

Nenhum comentário: