segunda-feira, 14 de junho de 2010



14 de junho de 2010 | N° 16366
PAULO SANT’ANA


Só interessa o início

A mais importante revolução da passagem de século é a do sexo.

As pessoas da minha idade guardam como um remorso irreparável terem vivido a juventude sem fazer sexo.

Hoje, os pais não se sentem com autoridade moral para perguntar a suas filhas jovens se elas fazem sexo. Se se aventurarem a perguntar, serão atingidos pelo mofo e zombaria das filhas.

O normal é os namorados fazerem sexo nas casas dos pais. O normal é os namorados viajarem em grupos, por vários dias, praticando sexo à tripa forra.

Essa revolução para melhor, que mandou para as calendas o sexo reprimido e assustado, é estonteante: fazer sexo entre os jovens hoje é uma regra, há 40 anos era uma exceção.

Há 40 anos e antes disso, havia um terror a povoar as mentes de rapazes e moças: o risco da gravidez.

Com a vinda da pílula, os jovens fazem sexo impunemente, trocam de parceiros, experimentam-se, ficou quase impossível acontecer o que acontecia no passado: por não terem feito sexo antes do casamento, depois do casamento só é que notavam serem incompatíveis.

Hoje não, se sair um casamento, pode-se apostar que os dois nubentes se dão bem na cama, tiveram tempo e liberdade suficientes para se testarem antes de subir ao altar.

Isso inibe ostensivamente os pais de tentarem ministrar educação sexual a seus filhos.

Antigamente, uma mãe ainda se atrevia a ensinar a prática do sexo à sua filha noiva. Hoje é literalmente desnecessário.

A filha é que deveria ensinar a mãe, sabe muito mais do que ela.

Logo, em relação às gerações anteriores, a atual geração é muito mais feliz e aproveita a vida com todos os seus encantos e delícias.

Nós, das gerações passadas, fomos uns infelizes, reprimidos, vigiados, massacrados pela imposição de que sexo só podia ser feito depois do casamento.

Hoje, enfim, sexo não tem nada a ver com casamento.

Em plena Copa do Mundo, sábado passado, estourou uma notícia que batia de goleada todas as notícias que vêm da Copa do Mundo: o Internacional contratou Celso Roth para seu treinador.

Treinador competente o Celso Roth: já treina um dos quatro semifinalistas da Libertadores da América.

Todos os jornalistas davam palpite sobre quem seria o novo treinador do Internacional, nenhum deles, no entanto, nenhum de nós, em meio à enxurrada de palpites, previu que o nome era Celso Roth.

De início, antes que o Celso Roth seja campeão da América ou acabe derrotado na Libertadores, deve-se dizer que a direção colorada mostrou uma coragem ímpar: Celso Roth saiu do Grêmio sob grave desconfiança da torcida tricolor.

E como se falava que o novo treinador podia ser Luiz Felipe, Adilson Baptista ou Paulo Roberto Falcão, foi preciso ter coragem para escolher um nome de muito menor impacto do que os cogitados.

E sabe-se agora qual foi o critério que norteou a escolha: os dirigentes do Internacional foram vasculhar o currículo de Celso Roth e viram que ele sempre tinha sucesso no início de suas caminhadas nos clubes. Sempre começou ganhando, depois é que decaía.

Como o que interessa para o Internacional é só o início, a disputa na semifinal da Libertadores com o São Paulo, se o Celso Roth mantiver a tradição, a escolha terá sido definitivamente acertada.

Inteligente.

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