sexta-feira, 25 de junho de 2010



25 de junho de 2010 | N° 16377
L. F. VERISSIMO


Em Durban

O Mario Quintana dizia que as guerras eram métodos práticos de se aprender geografia.

Lugares dos quais jamais se ouvira falar ficavam famosos, e entravam para a História, por serem os locais de batalhas decisivas. Nada de muito importante aconteceu em Waterloo antes ou depois da derrota do Napoleão, mas seu nome não só nunca será esquecido como faz parte da linguagem simbólica de todo o mundo.

As seleções do Brasil e de Portugal disputando o primeiro e o segundo lugares na sua chave não decidirão os destinos da humanidade, mas Durban ficará na história das nossas participações na Copa e na nossa história pessoal para sempre, como aquele lugar em que... Em que o quê? Hoje saberemos. De qualquer jeito, aconteça o que acontecer em Durban, teremos tido uma lição de geografia sem guerra.

Durban fica a menos de uma hora de avião de Joanesburgo, na costa oriental da África do Sul, no Oceano Índico. As águas do Índico são quentes, ao contrário das águas do Atlântico, no outro lado do país, que são geladas. Por isso, Durban, além de ter um porto importante, é um lugar de veraneio muito procurado.

A sua Golden Mile, ou Milha Dourada, é um trecho à beira-mar cheio de hotéis e restaurantes, e entre a avenida e a praia da Golden Mile há vários parques de diversão lado a lado, com movimento e música constantes. O mais movimentado e musical parece ser o que fica exatamente na frente do nosso hotel, mas quem vem a uma Copa para dormir?

Durban tem uma grande população indiana (a maior fora da Ásia) e uma das maiores mesquitas do continente africano. Mas o que mais deve nos interessar na sua demografia e na sua história é a quantidade de portugueses e descendentes de portugueses que aqui vivem e o fato da cidade ter sido fundada por Vasco da Gama, com o nome de Porto Natal.

Quer dizer: há um certo, digamos, pendor português no ar de Durban. No jogo de hoje, a torcida dos portugueses será grande maioria. E não serão apenas portugueses. Serão portugueses com vuvuzelas. Que Deus nos proteja.

Ainda não se sabe o destino da Espanha, mas, se esta Copa significou alguma coisa, até aqui, foi o declínio do que o ex-secretário da Defesa americano Donald Rumsfeld chamava, desdenhosamente, de A Velha Europa, para ele a Europa irrelevante. França e Itália se foram, a Alemanha passou para as oitavas ali, ali. Enquanto isso, a Eslováquia...

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