Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 28 de junho de 2010
MOACYR SCLIAR
A vuvuzela como sonho
Um dia alguém comporá sinfonia em dó menor para vuvuzela e orquestra que será tocada no Municipal
A Premier Inn, uma das maiores cadeias hoteleiras do Reino Unido, anunciou a proibição das vuvuzelas, as cornetas de plástico que dividiram as opiniões no Mundial-2010. A empresa, que conta com 580 hotéis pelo mundo, proibiu as vuvuzelas depois que torcedores perturbaram o sono de seus hóspedes no hotel central de Newcastle, Inglaterra. Criada por Freddie Maake, torcedor do Kaizer Chiefs, medindo de 50 cm a 2 m e relativamente barata, a vuvuzela tornou-se muito popular.
Desde criança, seu maior desejo era tocar um instrumento musical. E bem que tentou. Com o apoio dos pais, fez primeiro aulas de piano. Sem resultado: a professora mandou-o embora, dizendo que ele não tinha o menor futuro naquele instrumento. Seguiu-se o violino, a harpa, o fagote. Nada. Por sugestão da mãe, partiu para o popular: violão, cavaquinho. Inútil. Não conseguia tocar coisa alguma, nem mesmo pandeiro.
Aos treze anos, considerava-se um completo fracasso, alguém que teria de renunciar aos sonhos e conformar-se com a dura realidade. Foi então que descobriu a vuvuzela. Claro, já conhecia essa estranha corneta de plástico, mas na verdade não havia se interessado muito por ela até então. Com a Copa, porém, e com a visão de milhares de pessoas fazendo soar suas vuvuzelas, ele se entusiasmou.
Com o dinheiro da mesada comprou uma vuvuzela particularmente grande, com quase um metro de comprimento, e particularmente poderosa: o som que ali saía, e que parecia o zumbido de abelhas enfurecidas, fazia vibrar as paredes da casa. E enchia-o de satisfação. Pela primeira vez estava fazendo música, ou algo que considerava como música.
E, para isso, não precisava de professor nem de partituras. Bastava-lhe a vontade de fazer soar aquela coisa, e essa vontade não lhe faltava nunca. Freddie Maake, o inventor da vuvuzela, transformara-se em seu ídolo. Tinha até uma foto do homem pendurada em seu quarto. Quem não estava gostando nada da situação eram os pais, que não aguentavam mais aquela vuvuzela. Os vizinhos também começaram a reclamar e ameaçaram fazer queixa à polícia.
Quando o pai leu no jornal que uma cadeia de hotéis ingleses tinha proibido as vuvuzelas, sentiu-se autorizado a fazer a mesma coisa. Chamou o filho, mostrou-lhe a notícia e fez o comunicado: a nossa casa não é hotel, mas vale aqui o mesmo princípio: você não pode mais tocar vuvuzela. E ele não toca mais vuvuzela. A corneta -cuidadosamente enrolada em um pano- está guardada em seu roupeiro, aguardando a oportunidade para o retorno. Mais cedo ou mais tarde, ele tem certeza de que o retorno ocorrerá.
Um dia a vuvuzela será reconhecida como o instrumento musical de nosso tempo, superior ao clarinete e ao oboé. Um dia alguém comporá uma sinfonia em dó menor para vuvuzela e orquestra. E um dia essa peça será apresentada ao público no Municipal.
Ele será o solista, claro. Quando a última nota soar, e quando os aplausos estrugirem, ele se inclinará diante do público, com sua vuvuzela, sorrindo feliz por ter, enfim, realizado seu sonho de tocar um instrumento.
moacyr.scliar@uol.com.br
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