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terça-feira, 8 de junho de 2010
08 de junho de 2010 | N° 16360
MOACYR SCLIAR
Crimes e erros
No começo do século 19, durante o governo de Napoleão, Louis Antoine de Bourbon, duque de Enghien e membro da casa real francesa, foi preso, acusado de conspiração. De imediato, ficaram evidentes erros grosseiros da investigação: o duque simplesmente tinha sido confundido com outra pessoa. O que fizeram as autoridades? Anularam o processo? Não.
Mudaram a acusação: agora o nobre era considerado culpado de contrabando de armas e colaboração com países inimigos, com o que foi rapidamente, e escandalosamente, executado. Na ocasião, Joseph Fouché, ministro da Polícia, político tão astuto quanto cínico, disse uma frase (às vezes atribuída ao também político, e também astuto e cínico, Charles-Maurice de Talleyrand) que ficou famosa: “C’est pire qu’un crime, c’est une faute”, “É pior que um crime, é um erro”.
A afirmação vem à mente diante do recente episódio em que forças israelenses mataram ativistas que tentavam chegar a Gaza numa flotilha de navios. O governo de Israel tinha avisado que impediria a expedição de chegar a seu destino; uma decisão que pode ser controversa, mas que certamente não antecipava o surrealista acontecimento que viria a seguir.
A operação militar incluía a descida de soldados de helicópteros. Uma cena que, em filmes, costuma ser espetacular, e que lembra anjos vingadores descendo do céu. Na televisão, isso apareceria de forma impressionante e certamente se constituiria em uma mensagem de simbólico impacto. Mas, como sabemos, o resultado foi outro, e desastroso.
Os ativistas (que não eram militantes armados, como os quatro mortos desta segunda) resistiram com os meios que estavam a seu alcance. Resultado: nove mortos e uma repercussão catastrófica na mídia. Isso lembra um outro episódio que, nesta época de Copa, vale a pena evocar, porque, segundo se conta, aconteceu justamente na Copa do Mundo em 1958, na Suécia.
O Brasil iria enfrentar a União Soviética e o técnico Vicente Feola explicou a Garrincha como chegar à área do adversário e nela entrar sem dificuldade. Garrincha fez uma pergunta que ficou histórica: “Mas, seu Feola, avisaram os russos?”.
Não, ninguém tinha avisado os soviéticos para darem passagem a Garrincha, assim como ninguém tinha avisado os ativistas da possibilidade de um desfecho tão sangrento.
O que aconteceu, portanto, certamente não estava nos planos. Não foi um ato terrorista. Neste, o objetivo é matar gente e, quanto mais vítimas (civis ou militares, não importa), melhor, porque a eficácia do terrorismo baseia-se no número de mortos que um atentado pode provocar.
Não foi o caso, mas isso, para quem morreu, para os amigos, para os familiares, para os conterrâneos, para o público em geral, não faz a menor diferença: óbito é óbito, independentemente das intenções de quem o causa. E Israel, por sua vez, está numa posição tão difícil, que a simples possibilidade de um erro desses acontecer deveria ser suficiente para motivar uma mudança de planos.
De qualquer modo, fica clara essa comédia de erros, para usar a expressão shakespeariana, em que se constitui o Oriente Médio.
Está na hora de parar com operações midiáticas e partir para a racionalidade pura e simples, e a primeira medida prática para isso é a criação de um Estado palestino capaz de conviver com Israel e de respeitar sua segurança. O resto é erro. E erros, como disse Fouché, podem ser piores que crimes.
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