terça-feira, 8 de junho de 2010



08 de junho de 2010 | N° 16360
LUÍS AUGUSTO FISCHER


O futuro do livro

Oleitor que começou a ler estas linhas tem gosto por livros, não tem? Logo vi. Somos da mesma família espiritual. Tanto ele, quer dizer, tu, quanto eu, temos nossa coleção de livros em casa; é bem possível que o leitor tenha menos sentimento de posse do que eu, que quase nunca me contento em apenas conhecer um bom livro – preciso tê-lo comigo. Mas eis que o computador e a internet apareceram, e tudo mudou.

Com ele, logo mostrou as orelhas uma nova modalidade de preservação de textos, ou na memória dele, ou em arquivos de pendurar nele; com ela, não tardou nada a arreganhar os dentes uma inédita possibilidade de pesquisar em outros depósitos de textos, imagens, sons, a qualquer distância física. O que antes dependia do livro para sobreviver, agora parece não depender de mais nenhum suporte físico.

Mas atenção: apenas parece que a informação independe de suporte físico. Porque, OK, computador e internet parecem lidar com o imaterial para guardar nele tudo que até há pouco precisava da impressão com tinta em papel, mas algum lugar físico existe para tal e tanto.

Não sei se se chama chip ou o quê; mas sei que dele vai depender a permanência das informações, palavras, enredos, personagens, experiências, enfim, de tudo que o livro portava elegantemente. E vamos à pergunta fatal: esse novo lugar, digamos o chip, ele é suficientemente estável para armazenar tudo isso sem risco?

Robert Darnton formula a questão de modo mais agudo ainda, em seu novo e imperdível livro A Questão dos Livros – Passado, Presente, Futuro (Cia. das Letras, tradução de Daniel Mojo Pellizzari); e não só a formula como encaminha uma série de reflexões em torno desse candente problema, o da preservação da informação e sua relação com o livro e o jornal impressos e com os chips e sabe-se lá mais o quê.

Uma de suas mais duras questões confronta o otimismo com que o Google está alegando preservar milhões de livros, que estão sendo digitalizados a rodo, mundo afora.

Darnton pergunta singelamente: o Google emprega bibliógrafos para tal empreitada? A resposta é não: a flamante empresa norte-americana, que tantos serviços presta à nossa sede de consulta instantânea, emprega engenheiros e advogados, porque o negócio dela é, bem, o negócio, quer dizer, o quanto vai ganhar nisso tudo.

Bem, gastei todas as minhas linhas e nem disse ainda que o livro de Darnton é excelente como relato de experiência (historiador, sua predileção é o mundo dos impressos do século 18 francês) e como debate político (é diretor da biblioteca de Harvard). As perguntas mais duras que um letrado pode fazer sobre o tema-título dessa insuficiente resenha ele fez, e para todas encaminhou alguma resposta forte.

Prezado leitor, tarado como eu pelos impressos em papel, não perca este.

Nenhum comentário: