segunda-feira, 14 de junho de 2010


FERNANDO RODRIGUES

"Lula tá com ela"

BRASÍLIA - Jingles políticos resumem o pensamento de um candidato numa determinada eleição. O rapper will.i.am musicou a frase "yes, we can", de Barack Obama.

No caso de Dilma Rousseff, lançada ontem oficialmente pelo PT ao Planalto, o jingle sintetiza à perfeição toda a estratégia de construção da imagem da petista até agora.

O refrão é autoexplicativo: "Lula tá com ela. Eu também tô". A palavra "Dilma" aparece seis vezes. "Lula" vem na cola, com cinco menções. O objetivo é dizer que um é o outro e outro é o um. Se o projeto petista fosse um filme de Hollywood, James Cameron poderia ser o diretor. O roteiro teria Lula enviando seu avatar para a campanha.

Não há constrangimento com essa superposição de personalidades. Ao contrário. Há orgulho.

Eis Lula, ontem: "Vai ser a primeira eleição, desde que voltaram as eleições diretas para presidente, que o meu nome não vai estar na cédula. Vai haver um vazio naquela cédula. E para que esse vazio seja preenchido, eu mudei de nome e vou colocar "Dilma" lá na cédula".

Não há nada errado em um partido e seu maior líder tentarem inocular popularidade em quem é escolhido representante do grupo num processo eleitoral. É do jogo político. Foi assim no passado. Será assim no futuro. Mas os exageros de sempre têm de ser registrados.

O jingle dilmista tem um trecho assim: "Meu Brasil novo, Brasil do povo, que o Lula começou, vai seguir com a Dilma, com a nossa força e com o nosso amor". É um conceito histórico para lá de elástico achar que o Brasil nunca foi "do povo" antes de Lula.

Já sobre Dilma governar "com o nosso amor", a frase é incompleta. Haveria mais rigor num verso falando em administrar o país "com o nosso amor, e também com Sarney, com o PP de Maluf, o PMDB e seu apetite por cargos e com o PR de Valdemar Costa Neto". Infelizmente, aí não daria rima.

fernando.rodrigues@grupofolha.com.br

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