ROSELY
SAYÃO
Quem vai ficar com as
crianças?
Passar
mais tempo com os filhos durante as férias escolares transformou-se em problema
para os pais
TENHO
RECEBIDO mensagens de pais -de mães, principalmente- que comentam as
consequências que as férias escolares dos filhos provocam em suas vidas,
levantam questões e manifestam dúvidas sobre o que fazer com as crianças
durante o recesso.
Muitos
deles perguntam se faz mal para a criança frequentar a escola nessa época, já
que muitas delas oferecem recreação e cursos extracurriculares para a criançada
ter o que fazer ou com quem ficar enquanto os pais trabalham.
Outros
questionam se a criança precisa mesmo passar tanto tempo sem ir para a escola,
sem encontrar seus colegas, sem ter atividades diferentes para realizar com seu
grupo.
Há
também os que reclamam. Vou citar uma leitora que, magoada, contou que havia
planejado fazer um cruzeiro em meados do semestre próximo, mas que, como não
encontrou alternativa para o filho, teve de renunciar ao passeio e marcar suas
férias para o mês de janeiro, sem direito de viajar sozinha.
Alguns
pais perguntam a partir de qual idade a criança pode ir para um acampamento,
outros querem dicas do que inventar para os filhos fazerem em casa, perguntam
se devem manter rotina, hora de sono, tempo no videogame ou computador, escola
de esportes etc.
Há
dúvidas de todo tipo. Então, vamos ajudar a esclarecê-las antes de refletir a
respeito do tema.
Ir
para a escola quando a maioria dos colegas não está lá não deve ser muito
agradável para crianças, não acha, leitor? Além disso, deixar sua casa quando
não é necessário -as crianças sabem o significado de férias- é custoso para
elas.
Descansar
dos adultos que trabalham na escola, do ambiente físico, das regras que lá
existem, tais como hora de se alimentar, de trocar de roupa etc., é
revigorante. Você não gostaria de passar dias de suas férias em seu local de
trabalho, não é verdade?
À
escola a criança vai para aprender. Mesmo no ciclo da educação infantil, o
brincar da criança é diferente e promove o aprendizado. Nem sempre sabemos
dizer o que ela está aprendendo, mas que aprende, aprende. E isso é exaustivo.
Por isso, a criança precisa de férias escolares, mesmo quando pequena.
Ter
filhos significa ter de renunciar, mesmo que temporariamente, a diversas
coisas. Reclamar não é produtivo, já que o desejo de ter filhos foi dos
próprios pais.
É
recente essa ânsia dos adultos de criar programação para os filhos. Eles mesmos
podem fazer isso, mas só se tiverem tempo para o ócio. Claro que, depois de
viver apenas com os adultos dirigindo suas atividades, eles estranharão um
pouco, mas vão aprender o quanto é valioso serem donos de seu tempo, de suas
escolhas, da ordem de seus afazeres.
Por
último, vale a pena pensarmos nos motivos que levaram muitos pais a tratar as
férias dos filhos como um problema. Talvez, seja difícil saber o que fazer com
as crianças sem a mediação dos horários rígidos e dos compromissos da agenda
escolar. Talvez, seja mais difícil ainda conviver com os filhos por períodos
maiores do que os pais estão acostumados.
A
partir de quando ficar com os filhos em casa transformou-se em um problema?
Desde o momento em que ter filhos passou a ser uma ideia diferente da de
acompanhar a vida de uma criança, cuidar dela, dedicar-se a ela, ficar
disponível para o que possa acontecer; desde que passamos a querer viver com
filhos do mesmo modo que vivíamos antes de tê-los. A partir do momento em que
nossa vida desobrigada deles parece ser muito mais sedutora.
Por
que temos filhos?
ROSELY
SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?"
(Publifolha)
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