19
de dezembro de 2012 | N° 17288
MARTHA
MEDEIROS
O mundo está encolhendo
O
mundo não vai acabar, mas certamente está diminuindo de tamanho.
Antes,
cada país preservava sua cultura e seus costumes. Hoje, todos possuem vários
McDonald’s, Starbucks, Outback, Subway – nenhum viajante se sente longe de
casa, o fast food da esquina impede a sensação de estrangeirismo. O mundo
encolheu.
Antes,
levávamos dias para chegar a um local, semanas para atravessar um país. Hoje,
para estar em qualquer lugar basta uma teclada, uma câmera virtual, e assim
economizamos tempo, dinheiro e romantismo. Eliminou-se o trajeto. O mundo
encolheu.
Antes,
cada lar era sagrado, a intimidade era assunto de poucos, havia uma sacralidade
que, mesmo informal, preservava os pecados internos. Hoje, o que nosso pai diz
está no Twitter, nossa mãe tem perfil no Face, nossa casa não tem mais paredes.
O mundo encolheu.
Antes,
o que se escrevia era de autoria particular, indevassável. Hoje, há vários
autores caçando palavras alheias, várias fontes a quem é atribuído o mesmo
texto, não há mais o dono da ideia, tudo o que se diz e escreve é de quem viu
primeiro, basta adotar como seu. O mundo encolheu.
Antes,
os amores eram secretos, as dores eram particulares, chorava-se em silêncio e
em privacidade, ninguém sabia o que você sentia, a não ser que você fosse poeta.
Hoje a dor de amor é produto externo bruto, fatura-se com o coração ferido. O
mundo encolheu.
Antes,
a amizade era confeccionada com o tempo, era preciso meses para confiar, anos
para decretar que o vínculo seria eterno, havia uma trajetória a cumprir antes
do abraço indissolúvel, os padrinhos de casamento eram escolhidos entre os irmãos.
Hoje, o melhor amigo é aquele de segunda-feira, que te deu uma carona. O mundo
encolheu.
Antes,
o conteúdo dignificava, estabelecia uma triagem natural entre quem era
consistente e quem não tinha substância para fazer diferença. Sabedoria e
conhecimento tinham valor. Hoje, se o sujeito concorda contigo, basta para ser
teu ídolo. O mundo encolheu.
Antes,
a polidez não era um fricote, e sim uma atitude honrada. Ser respeitoso não
merecia escárnio, e sim retribuição equivalente: bons tratos eram recorrentes
entre cavalheiros e damas. Ampliava-se a civilidade. Hoje, respeitar está fora
de moda, moderno é ser cruel. O mundo encolheu.
Antes,
o prazer não tinha valor diante do desprazer do outro, nada valia ser feliz à custa
das infelicidades alheias, havia uma corrente silenciosa e íntegra que avisava:
ou todos, ou nenhum. Hoje, restritos em nossas individualidades, é comum
passarmos por cima até dos nossos afetos. O mundo encolheu.
Estamos
promiscuamente embolados, sem espaço para ampliar nossa existência. O mundo
encolheu e alguns vão sobrar. Já estou com meio corpo pra fora.
Linda
quarta-feira pra você - Aproveite
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