31/12/2012
e 01/01/2013 | N° 17299
LUIZ
ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Hugo Achugar
Há
uma regra não escrita que desaconselha resenhas de livros indisponíveis no
Brasil. Tem sua razão de ser; mas, se pensarmos que, por essa causa, deixamos
de dar uma boa notícia literária, temos de relativizar o princípio. E se essa
boa notícia faz justiça a um excepcional livro de poemas publicado em 2012 no
Uruguai, um livro de Hugo Achugar, Incorrección (ed. Yaugurú), cabe dizer sobre
o autor e a obra.
Hugo
Achugar (1944) é um dos mais importantes intelectuais contemporâneos, com bons
antecedentes no ensaio, na crítica, no magistério e, também, na poesia. Sua
ação política levou-o ao cargo que hoje ocupa, de diretor nacional de Cultura
do Uruguai, no governo José Mujica.
O
livro é pleno de existência humana em seu estágio maduro, primórdios da
velhice: Conoce su destino. Infringe
todas las reglas./ Cada mañana / al despertar/ vuelve a dar um paso hacia el
abismo/ se lava los dientes/ escribe um nuevo innecesario poema. Ou, mais
adiante: Solo hay nubes / en el cielo encerado de mi frente calvicie. / Flor
degollada por pampero aliento/ rueda sin prisa pelota pelón melón cabeza/ por
los campos sin sueño de la madrugada.
O ápice do poemário está aqui: Todo deseo
insatisfecho concluye / en un nuevo deseo que no logrará / calmar inagotable la
sed aberta / la insondable fosa de las Marianas de esa avidez / hecha carne y
hueso que lleva mi nombre // por eso la obligación el apuro la necessidad / el
fondo blanco hasta el agua de los floreros / la cópula incessante aunque cesada
tiempo ha// por eso la ausencia de horizontes / el infinito como aspiración y
castigo / el anhelo el empeño la culpa deseante/ por eso el no acabar ni
acabando / por eso el desasosiego aguijón la demanda / y también por eso / por
lo que no se puede no me atrevo a pronunciar.
Simples,
refinado, homem do mundo e da arte, Hugo Achugar desempenha-se com habilidade
nos assuntos práticos de seu ofício político, criando situações inovadoras e
brilhantes no sentido da inclusão e da cidadania cultural. Quando, por vezes,
dizem que todos os poetas são uns imprestáveis na “vida real”, Achugar
mostra-nos justo o contrário.
Resta-nos
esperar que uma editora brasileira assuma a publicação dessa obra, para que
possamos conhecer algo de um poeta verdadeiramente superior e que vive a nosso
lado.
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