23
de dezembro de 2012 | N° 17292
ARTIGOS
- FLÁVIO TAVARES* MARCELO PIRES*
Nossa era já
era!
Ocalendário
maia previu e o fim do mundo está aí, à nossa frente! Com a exatidão de quem
sabia do cosmos, dos astros e da vida mais do que os supercomputadores atuais,
os maias previram o fim de uma era nestes dias de dezembro. Não previram “fim
de mundo” como apocalipse e destruição (algo que o fetichismo sensacionalista
inventou agora), mas, sim, o término de um ciclo cósmico – uma era termina e
surge outra para que a vida continue.
Não
é isto que vemos hoje? Na era do antibiótico, da bomba nuclear, da aids, dos
transplantes, tudo está em mudança. Do clima ao comportamento, da organização
familiar aos alimentos. Do trabalho à diversão. No consumismo, a vida mudou.
Antes, alguma criança deixaria de correr e brincar para apertar botõezinhos no
videogame? Quem pensaria em casamento de homem com homem e de mulher com
mulher? Ou que a engenharia genética nos leve a escolher a cor dos olhos do
futuro filho? Ou que conheçamos o mundo em casa, pela TV, que o carro substitua
o andar ou a tecla do computador substitua a letra?
Os
maias dividiam o tempo em eras de 5.125 anos, ou 13 “baktunes”, uns 440 anos em
nossa visão atual. Antropólogos mexicanos traduziram a data de “4 Ajaw 3 Kank
in” como 21 de dezembro de 2012. A previsão está numa escultura do ano 695
a.C., com o qual a data exata poderia ter sido corrigida por novas medições
astronômicas, perdidas no tempo ou nunca realizadas.
Não
erraram, porém, e o fim do mundo está aqui, no Brasil. A euforia pelo
julgamento do “mensalão” começa a ser suplantada por uma organizada campanha
para desacreditar as novas revelações em que Marcos Valério (que movimentou as
cifras milionárias da fuzarca) aponta o ex-presidente Lula da Silva como um dos
beneficiários das falcatruas. O Supremo Tribunal comprovou que tudo ocorreu na
alta cúpula e envolveu três bancos (um deles, o do Brasil), mas Lula não
apareceu nos depoimentos do processo.
Seria
tão alheio a tudo, que foi “enganado”, como afirmou em 2005? Ou, como é regra,
os cúmplices flagrados no crime protegem sempre os chefes, por lealdade? Ou por
temor, quando o chefe é poderoso?
O
cúmplice cede, porém, quando a dor aperta. Condenado a 40 anos de prisão,
Valério contou (em depoimento posterior à Procuradoria-Geral da República) que
repassou dinheiro para o próprio Lula da Silva, através da empresa de Freud
Godoy, guarda pessoal do ex-presidente.
O
fim de mundo é isto. Ou, ainda, oito governadores terem visitado Lula para protestar
contra “as injúrias à sua honra”. Se nada o implica em nada, por que não
aproveitar o eventual processo judicial para desmascarar o calunioso Valério?
Na
desgraça, a delação costuma acompanhar os cúmplices. Dias atrás, Paulo Vieira,
que na direção da Agência Nacional de Águas chefiou a máfia que licenciava a
construção de hidrelétricas, acusou a atual ministra do Meio Ambiente de
pressioná-lo a favor de obras indevidas...
Os
maias nada têm a ver com este fim do mundo. Nem com a ideia de outro Maia, o
Marco, presidente da Câmara Federal, que se rebelou contra a cassação dos
mandatos dos três deputados condenados na corrupção do mensalão. Quer nosso
Maia que eles passem as tardes no parlamento e durmam na cadeia? Ou que sejam
deputados à distância, pela internet da prisão?
Fim
de mundo, mesmo, é a destreza com que Rosemary Noronha usou sua intimidade com
Lula da Silva para integrar a “máfia das águas” e tudo fazer e desfazer em nome
da Presidência da República. Nas 32 viagens oficiais que com ele fez pelo
mundo, exibia passaporte diplomático e podia vir de mala cheia sem prestar
contas à Alfândega.
Por
isto, digo: nossa era já era!
*Jornalista
e escritor
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