16
de dezembro de 2012 | N° 17285
CLAUDIA
TAJES
Tudo depende do jeito de ver as
coisas
Esta
semana soube de uma história engraçada. Meu amigo Marcelo, que é excelente pai
para seus dois filhos, o João e o Tobias, estava com o mais moço, o Tobias, no
supermercado. Acontece que, aos quatro anos, o Tobias incorpora todos os
alienígenas em que o Ben 10, protagonista do seu desenho animado favorito, se
transforma, incluindo a Besta, espécie de fera cega que baba o tempo inteiro,
na definição do Marcelo. Estavam os dois na fila do caixa e o Tobias, no papel
de Besta, não saía do lugar. O Marcelo, então, chamou: anda logo, Besta. A
senhora do carrinho ao lado saltou, indignada, onde já se viu chamar um menino
pequeno de besta?
Na
mesma linha fantasiosa, um causo do meu filho, também aos quatro anos. Quando
faltava o que fazer e sobrava energia infantil, o jeito era recorrer às piscinas
de bolinhas dos shoppings, onde a gente se identifica e deixa o telefone para
emergências ao entregar a criança. Tomando um café e sem prestar atenção em
nada (sabe quando o barulho e o movimento em volta vão anestesiando o
sujeito?), comecei a ouvir, bem ao longe, um anúncio no alto-falante: senhora
Vênus, o Dragon a espera chorando na piscina de bolinhas. E alguns minutos
depois: senhora Vênus, seu filho Dragon a espera chorando MUITO na piscina de
bolinhas.
O
aviso se repetiu por tantas vezes que resolvi conferir o estado do meu pequeno,
enquanto o pobre do Dragon, no aguardo da mãe desnaturada, se acabava de
chorar. A atendente pulou no meu pescoço: dona Vênus, o Dragon está
desesperado, a senhora não ouviu? Louco para sair do brinquedo, meu filho se
confundiu e deu o nome do herói e da mãe do herói do desenho que ele adorava.
Ou então acreditava mesmo que nós fossemos o Dragon e a Vênus. Minha sorte é
que a atendente não chamou o Conselho Tutelar.
A
editora da revista, a Mariana Kalil, não aguenta mais ouvir falar na despedida
do Olímpico, mas lá vou eu. Se sem futebol já foi uma tarde para não esquecer,
imagina se o jogo tivesse sido bem jogado. O que mais me entristece é que o meu
pai, o seu Tito, desde 1995 assistiu a todas as partidas no estádio de um
camarote privê, ali na cobertura do cemitério, onde o instalamos especialmente
para que continuasse acompanhando o time.
Aposto
que o velho gostou disso. Agora ele vai avistar torres residenciais e
comerciais do seu camarote, mas tudo bem. O seu Tito é daquele raro tipo de
vizinho que não reclama de nada. E, com vista ou sem, seguirá torcendo.
Com
esse nome tão bonito, Isabel (acho melhor não dizer o sobrenome) aparece toda
hora na minha caixa de e-mails. Ela quer que eu me matricule em cursos de
vendas, cursos de aprimoramento em vendas, cursos de extensão em vendas,
workshops para que meus funcionários obtenham o melhor resultado nas suas
vendas, Isabel quer porque quer que eu mude de ramo e me dedique às vendas.
Quando
os e-mails dela começaram a chegar, tentei um entendimento. Olha, Isabel, eu
não consigo vender nem rifa. Na faculdade, quando precisava vender os jornais
da militância, eu preferia comprar todos a oferecer para alguém (o que foi
horrível: diante desse excepcional desempenho, meus líderes aumentaram minha
cota semanal de quatro para oito exemplares.
E eu
fali.). Não adiantou. Isabel continuou insistindo para que eu seja uma
vendedora perfeita. Em um acesso de insanidade, escrevi para o Serviço de
Atendimento ao Cliente dos cursos de vendas que a Isabel quer me vender.
Alguém, também com nome e sobrenome, prometeu que meu e-mail seria
imediatamente retirado do mailing. Desde então eu recebo, além dos e-mails
diários da Isabel, e-mails do rapaz que prometeu me retirar do mailing. Depois
dessa, não tenho mais dúvidas. Eu me correspondi com um vírus. E ele está me
respondendo.
Falando
em e-mail, este circulou há algum tempo na internet portuguesa. Seria a
resposta de uma mulher comum ao anúncio de uma academia de ginástica que perguntava:
neste verão, queres ser sereia ou baleia? No texto, a mulher escolhia ser a
baleia, que vive rodeada de golfinhos e sabe até cantar, a viver como a sereia
que, além de matar os pretendentes que dela se aproximam, ainda cheira a bagre.
Sobre
o corpo ganhar carnes extras com o passar dos anos, a mulher concluía: “com o
tempo, ganhamos peso porque a informação que acumulamos com tantas experiências
já não cabe na cabeça, e espalha-se pela barriga, braços, bunda, pernas. Isso
significa que não estamos gordas, somos é tremendamente inteligentes”. Excesso
de gostosura e de cultura. Chora, Gisele.
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