11
de dezembro de 2012 | N° 17280
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Pedido de desculpa aos meus irmãos
Eu
convivia com meus primos até o Natal de 80.
O
pai brigou com seus irmãos e deixamos de visitar a casa dos avós e de
participar das festas da virada com toda a família.
Foi
um desaparecimento sem explicação. Sempre brincava com meus oito primos,
paramos de nos ver de repente por imposição e diferenças dos adultos.
Nem
desconfio qual o motivo do desentendimento entre os tios e as tias. Sei que
sobrou para as crianças, que cresceram separadas e longe do casario amarelo da
Corte Real.
Herdamos
o desterro. Não tenho nem ideia de como meus cúmplices de sangue e peraltice se
encontram e como enfrentaram a maturidade.
Quanta
diversão desperdiçada! Quanta algazarra sufocada no pulmão! Quantas vidraças
intactas porque não jogamos mais bola na rua!
Perdi
meus melhores momentos de férias, que eram roubar pingente do lustre da sala,
deslizar de meias, espiar revistas com mulheres seminuas, beber cerveja
escondido.
Sumimos
da vista e da vizinhança, apartados do contato.
Não
quero repetir a tragédia. Mas estou fazendo igual ao meu pai.
Briguei
com dois irmãos, Carla e Rodrigo.
Meus
filhos Vicente e Mariana raramente falam com seus primos João Pedro, Giovanna e
Francisco.
Não
proíbo nada, mas não ajudo, o que dá no mesmo. Penalizo as crianças de
frequentar os corredores do sobrenome.
O
boicote é carregado de desculpas menores, finjo que estou certo, invento razões
e me adio em mentiras.
Como
estamos de mal, não visito os manos, sequer dividimos espaços em comum. É uma
Guerra Fria, na qual o silêncio se bandeou para arrogância.
O
tempo vem passando, e já faz dois anos sem aparecer nos aniversários, sem
telefonar, sem atualizar o rosto, comemorar os sucessos, amparar as tristezas.
Moramos
em Porto Alegre com um fosso interminável de ressentimento entre nossas casas.
Sou
um penetra na vida deles, e eles são desconhecidos em minha vida.
Não
visitei ainda Francisco, bebê recém-nascido do Rodrigo. Carla me atende, mas
seu marido me odeia.
Que
falta fazem os mais velhos nos obrigando as pazes. Hoje é complicado qualquer
passo em direção ao riso.
Não
pretendo ter mais razão. Prefiro transformar o orgulho em amor.
Peço
desculpas aos dois publicamente. Tenho saudade de nossos churrascos, dos abraços
gritados, dos conselhos sussurrados, de me emocionar à toa. E de trapacear no
jogo de ludo.
Peço
desculpas. Eu errei.
Nossa
mãe, Maria Elisa, não suporta a gente distante.
– Não
desejo morrer com vocês brigados. Não eduquei minha gurizada ao ódio.
Por
favor, meu presente de Natal é comemorar com vocês. Prometo que empresto minha
bicicleta amarela.
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