13
de dezembro de 2012 | N° 17282
EDITORIAIS
ZH
REJEIÇÃO AO
CORPORATIVISMO
Mesmo
entre quem reconhece o direito constitucional da Câmara Federal de decidir
sobre a cassação dos deputados condenados no processo do mensalão, amplia-se o
temor de que o histórico posicionamento corporativista dos parlamentares acabe
prevalecendo mais uma vez, reforçando a impunidade.
Por
isso, independentemente do desfecho do impasse – a polêmica votação foi adiada
ontem pelo Supremo Tribunal Federal (STF) devido a problemas de saúde do
ministro Celso de Mello –, percebe-se uma rejeição popular significativa ao
compadrio político e partidário da maioria dos parlamentares. A consequência
natural é que a sociedade, embora reconhecendo a prerrogativa dos deputados,
não acredita na capacidade de punição a colegas, mesmo nos casos de confronto
comprovado com a ética.
Qualquer
retrospecto sobre a atuação da Câmara, remoto ou mais recente, é suficiente
para comprovar que o Legislativo tem como rotina arquivar muito e punir pouco.
De 111 processos instaurados nos últimos oito anos pelo Conselho de Ética e
Decoro Parlamentar, apenas quatro culminaram com a perda do mandato. Entre 1949
e 2011, 179 deputados federais foram cassados – 150, portanto a maior parte,
durante o regime militar. Desde 2005, quando o escândalo do mensalão se tornou
público, 11 parlamentares perderam o mandato, sete dos quais por decisões
judiciais.
Mas
foi em 2011 que ocorreram alguns dos casos mais deploráveis de impunidade na
política. Num deles, a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF), mesmo flagrada
embolsando dinheiro vivo no caso do mensalão do DEM, foi simplesmente
absolvida. A desculpa foi de que a parlamentar não poderia ser punida por um
ato cometido antes de assumir o mandato.
A
alegação, na época, foi usada como medida preventiva, para evitar que outros
parlamentares acabassem prejudicados por fatos de sua vida pregressa. Na
prática, o episódio serviu para reforçar a impressão, predominante entre os
eleitores, de que muitos políticos se valem do voto popular para acobertar
malfeitos com um mandato eletivo.
E,
apesar da indignação popular causada pela absolvição, os parlamentares não
acenaram com qualquer perspectiva de menos condescendência para colegas às
voltas com quebra de decoro.
Menos
de um mês depois da absolvição da parlamentar do Distrito Federal, o Conselho
de Ética da Câmara simplesmente arquivou pedido de abertura de processo
disciplinar contra o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), sem ao menos abrir
investigação, num ato que até hoje gera inconformismo.
Ao
mesmo tempo em que defende suas prerrogativas, a Câmara precisa dar mostras da
disposição de reduzir as margens para impunidade no caso de deputados flagrados
por corrupção, desfazendo a ideia de que políticos eleitos são intocáveis. A
sociedade não pode consentir com o corporativismo, que acaba sendo acobertado
pela insistência dos parlamentares em defender o voto secreto em plenário,
impedindo qualquer transparência de suas decisões perante os eleitores.
Ao
mesmo tempo em que defende suas prerrogativas, a Câmara precisa dar mostras da
disposição de reduzir as margens para impunidade no caso de deputados flagrados
por corrupção, desfazendo a ideia de que políticos eleitos são intocáveis.
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