HÉLIO SCHWARTSMAN
Fragilidades
SÃO
PAULO - Nassim Taleb ataca de novo. Saiu no mercado de língua inglesa
"Antifragile - Things that Gain from Disorder" (Antifrágil - coisas
que são favorecidas pela desordem). É um livro estranho, mas que vale a pena
ser lido: profundo, polêmico, engraçado, erudito e salpicado por um festival de
idiossincrasias -um perfeito retrato do autor.
Em
termos de conteúdo, "Antifrágil" é a continuação lógica das obras
anteriores de Taleb. Desenvolve a ideia de que flertamos com o perigo, ao
basear nossas decisões em ciências que se fundamentam em modelagens
estatísticas de riscos. Estas, insiste o autor, tomam por base o que deu errado
no passado, mas são absolutamente cegas para eventos inesperados inéditos (os
cisnes negros, no linguajar de Taleb).
E,
se esperarmos tempo o bastante, cisnes negros aparecem. Foi um deles, a crise
econômica de 2008, que fez a fama e a fortuna de Taleb. Ele, que atuava em Wall
Street com derivativos, não só denunciou a fragilidade do sistema no livro
"A Lógica do Cisne Negro", de 2007, mas também se posicionou para
enfrentar o desastre, faturando alto tanto no mercado financeiro como no
editorial.
Para
o autor, o segredo para sobreviver num mundo cada vez mais complexo e sujeito a
cisnes negros é apostar na antifragilidade, isto é, em posicionamentos que não
só nos protejam das surpresas negativas mas também nos exponham às positivas.
Um exemplo à la Taleb: guarde 90% de seu dinheiro debaixo do colchão e invista
10% nas ações de maior risco que puder encontrar; neste caso, o inesperado
trabalhará a seu favor.
Essas
ideias, que merecem séria consideração, talvez ocupem a metade das 544 páginas
do livro. No restante, Taleb divaga pela medicina, filosofia, destila preconceitos
e ataca personalidades que elegeu como inimigas, sem jamais deixar de elogiar a
si mesmo. Munido de algum espírito esportivo, "Antifrágil" é uma obra
à qual vale a pena expor-se.
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