21
de dezembro de 2012 | N° 17290
ARTIGOS
- Ari Riboldi *
Um novo
mundo
Faz
algum tempo que este mundo vem se acabando. Os fatos são fantásticos,
inquestionáveis. Os homens é que não querem ver, não querem ou não conseguem se
dar conta, absortos em seus minúsculos mundos, incapazes de perceber o que se
passa no seu contexto. Não se faz necessário voltar ao tempo dos maias ou de
outras civilizações ancestrais. Fiquemos com alguns episódios recentes, ainda
na memória e na retina de todos nós.
Um
deles, marcante, simbólico, emblemático do fim do mundo. Em 11 de setembro de
2001, uma série de ataques suicidas comandados por alguns malucos – assim
considerados, da Al-Qaeda – colocou abaixo, em poucos minutos, o mito da
supremacia americana e da segurança inviolável da maior potência do mundo, os
EUA.
O
ataque às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, centro universal
das finanças, levou o medo e a insegurança aos americanos e ao resto da
humanidade, a despeito do olhar indevassável do Pentágono, dos poderes da Casa
Branca. Não apenas desmoronaram torres e prédios pela ação de meia dúzia de aventureiros.
Ruíram os alicerces do país mais poderoso da Terra, abalaram-se os conceitos de
segurança inviolável. Os ditos malucos atingiram o coração financeiro do
Ocidente, espalhando medos e fantasmas pelas ruas, avenidas, aeroportos,
cidades, países.
Mais
recentemente, foi a vez de a Comunidade Europeia ver dilaceradas as bases de
sua economia. Criada sob os princípios de um mercado comum, com os propósitos
de integração econômica, bloco solidário, moeda única, fortalecimento da
democracia, vendeu a ideia de um bloco homogêneo, de um paraíso econômico
permanente, de um milagre de vida paradisíaca para todos os cidadãos do Velho
Mundo. Eis que, de repente, em derrocada, efeito em cascata, uma a uma as
economias de vários países desse bloco monolítico começaram a quebrar.
A
concepção milagrosa de comunidade passou a ser questionada, pois nem todos
estão dispostos a abrir mão de direitos; mais que isso, abrir mão de parte de
suas economias para socorrer, solidariamente, os países irmãos em falência ou
em extrema dificuldade. O território sem fronteiras também ruiu, e os
nacionalismos voltam a exacerbar-se, como se fosse um retorno aos períodos dos
bárbaros. Salve-se quem puder! O paraíso não existe, era uma ficção.
Os
protestos árabes de 2010 a 2012, através de populações mobilizadas pelas redes
sociais, constituem outro sintoma de fim de mundo. A chamada Primavera Árabe,
em dois anos, derrubou verdades milenares, teocráticas. Varreu ditaduras
seculares, botou a correr tiranos até então sagrados e intocáveis. Abalou
verdades eternas, inquestionáveis. O povo reprimido, cegado, descobriu que há
outros horizontes, há outras formas de vida, há outras realidades.
O
mundo, portanto, não vai acabar em 21 de dezembro de 2012. Não existe a
necessidade de desmentir previsões apocalípticas, tão menos provar que o
calendário dos maias não possui amparo científico. Na prática, este mundo em
que vivemos já veio abaixo, ruiu, desmoronou, caiu, chegou ao fim. O que
importa é saber qual será o novo mundo que nós todos vamos erguer.
Quais
serão os alicerces da humanidade globalizada, hoje, uma pequena aldeia. Outro
mundo é possível. O atual não existe mais, é uma farsa, uma fantasia, uma
mentira que alguns insistem em repetir. A hora é de derrubar paradigmas, rever
verdades absolutas, recomeçar em novas bases. Afinal quem está satisfeito com o
atual mundo? Ele acabou, faliu. É tempo de recomeçar, de reconstruir um mundo
novo para todos.
*PROFESSOR
E ESCRITOR
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