domingo, 16 de dezembro de 2012



Mario Prata
16/12/2012 - 06h36

Ju Toku

Aparentemente, nada é mais antagônico do que um corintiano e um japonês. Segundo o senso comum, eles estariam um para o outro como, digamos, uma chuleta e um quimono. As aparências, contudo, enganam, e após cinco dias de intensa convivência com as duas culturas de rara complexidade, descobri entre ambas mais semelhanças do que supõe a nossa vã filosofia.

Em primeiro lugar, como bem notou meu amigo Zero, Japão é ZL. Pega a Radial, passa a Mooca, vai embora --e isso é só o começo.

Veja o lema da Fiel: "Lealdade, Humildade, Procedimento". Ora, não foi agindo de outra forma que os Sete Samurais defenderam seu povoado, no filme do Kurosawa, nem com disposição diferente que este país foi reconstruído do chão, depois da Segunda Guerra.

O mascote do Timão é um mosqueteiro por quê? Pelo companheirismo, do "um por todos e todos por um". Também é esse o espírito que move os japoneses: primeiro o coletivo, depois o pessoal. Neste sentido, aliás, o atual time do Corinthians é o mais japonês que já tivemos. Sem estrelas. Sem firula. Com dedicação --muita dedicação--, concentração e resultado. Nipon. Timón.

Ontem, em Tóquio, resolvi tomar um saquê. Após rodar alguns quarteirões, achei o lugar: uma escadinha dando para um subsolo, só duas mesas e um balcão, onde sentei- -me. Não demorou e um cara por ali, tomando cerveja, puxou papo.

Gente finíssima, o Sakurai. Casado com Midori, pai de Hiroko, mora em Kawasaki e, sempre que vem a Tóquio, bebe ali. Perguntei-lhe o nome do bar. "Ju Toku." Quis saber o significado e ele fez uma cara de "como é que eu vou explicar pra esse gringo?", já pegando meu caderninho e desenhando dois ideogramas.

"Ju", me explicou, é "dez", que no caso quer dizer "bastante", "mas Toku... Difícil. Toku, muito japonês". Pôs, então, a mão no coração. "Toku, coração, só que mais. Toku, coragem. Toku, esforço. Só que mais. Alguém faz coisa difícil? Tem Toku. Bravura? Toku!", dizia o Sakurai e batia no peito, onde, a essa altura, nem preciso dizer, já via os dois remos cruzados sob a âncora.

Na boa: eles têm mais estrelas, jogaram melhor contra o Monterrey do que nós contra o Al Ahly, e, vamos admitir, estão na frente na bolsa de apostas. Mas você acha que o Torres, com aquela pinta de Golf Club, tem Toku? Que o Rafael Benitez, que não vê a hora de mudar de emprego, tem Toku?

Que essa torcida, que veio até o Japão pra ficar homenageando o Di Matteo, tem Toku? Não, eles têm tanto Toku quanto um quimono tem sabor. Já nós, meu amigo, temos Toku até o osso: não dez, como o bar, mas 11. E 20 mil. E 30 milhões. Vai, Curintcha!

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