24/12/2012
e 25/12/2012 | N° 17293
KLEDIR
RAMIL
Peru de
Natal
Uma
das tradições da ceia de Natal é o peru assado no forno. Pobre peru. Digo isso
porque sou vegetariano e todos os anos tenho que conviver com aquela cena
triste de uma ave pelada, douradinha, com as patas pra cima, numa bandeja
decorada com frutas cristalizadas e fios de ovos.
Uma
das brincadeiras do nosso Natal em família – que se repete a cada ano – é a
contribuição espontânea de elementos desajuizados, metidos a artistas, que,
através de uma criação coletiva, transformam o peru de Natal em uma obra de
arte.
Em
geral, começa com uma banana descascada, que algum engraçadinho coloca entre as
patas do pobre coitado, apontando pra cima. Na sequência, os fios de ovos viram
pelos pubianos. Duas bolas da árvore de Natal fazem as vezes de testículos. E
por aí vai. Todo ano surgem novidades.
Ano
passado, um mamão papaia entrou como cabeça do boneco, com duas cerejas no
lugar dos olhos, um ovo de codorna no nariz e uma fatia de pêssego em calda
sorrindo, como se fosse uma boca. Alfaces na cabeça imitavam cabelos verdes,
duas tampinhas de pote de yogurte serviam de orelhas e até mesmo um chapéu foi
improvisado, usando o meu boné da GAP, que alguém cortou com uma tesoura e
ficou por isso mesmo. Coisa de moleque.
Teve
uma vez que, em sinal de protesto, a ala feminista da família criou uma perua
de Natal, mas não teve a mesma graça. A não ser os seios feitos de lâmpadas de
60 W, que ficaram tão engraçados que foram aproveitados no ano seguinte para
compor a mais extravagante das obras, um peru transformista que misturava...
bem, vocês sabem. Um pouco de tudo.
A
cada ano a coisa se sofistica. Chegou ao requinte de ter gente fazendo
planejamento e chegando com penduricalhos e bijuterias. É uma obra que se
alinha a essa nova tendência das artes plásticas que cria peças para serem
devoradas depois de expostas. Tirando as bijuterias, é claro.
Nesta
segunda à noite não sei o que acontecerá. Depois eu conto. Tenho um plano
fantástico, mas pode haver reação. A ideia é apresentar um manifesto contra a
falta de respeito com os animais, vivos ou mortos, racionais ou irracionais,
bípedes ou quadrúpedes, aves, peixes ou mamíferos. O pessoal não vai gostar.
Vamos ver. Se eu não voltar a escrever aqui nos próximos dias é porque fui
agredido.
Hostilizado,
mas com a bandeira na mão: “Não maltrate os animais”.
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