sábado, 15 de dezembro de 2012



16 de dezembro de 2012 | N° 17285
PAULO SANT’ANA

O rancho dos marginais

O meu amigo Padilha me contou sobre um assalto que sofreu o amigo dele.

Calçaram-no dois assaltantes, a vítima dirigia seu carro. Viram que ele não tinha dinheiro, somente um cartão de crédito corporativo.

Levaram-no então a supermercado e fizeram um rancho, vários quilos de picanha, uísque, champanha, xampu, muitos frascos de xampu, salgadinhos, doces, tortas, enfim, uma série de itens alimentícios, tudo no valor de R$ 750.

Depois, soltaram o assaltado e levaram o carro dele.

Não é a primeira nem última vez que o objetivo do roubo é fazer rancho no supermercado: o colega Moisés Mendes teve seu cartão de crédito clonado e lhe foi comunicado pela própria direção do cartão que os ladrões fizeram também um rancho no supermercado no valor de R$ 780.

É, tem muita gente roubando para passar bem com fartura no rancho.

Surgiu a hipótese remota mas ao mesmo tempo concreta de que eu venha a tirar férias neste verão.

Como nunca tiro férias, estou desajeitado para deixar de trabalhar durante uns 15 dias.

Não sei o que farei nas férias nem para onde vou. Atualmente, nenhum lugar me atrai.

O que eu queria mesmo era conhecer os lugares santos em Israel, conheço praticamente o mundo inteiro mas nunca fui ver os locais em que Cristo foi crucificado, desceu aos infernos, subiu aos céus e ao terceiro dia ressurgiu dos mortos, de onde há de vir e julgar tanto os que já morreram através dos tempos quanto os que estiverem vivos.

Outro lugar que me atrairia seria o Caribe, nunca fui lá. Só conheci o Caribe mexicano, Acapulco e Cancún, as águas do mar lá me sorriram claras e quentes, não havendo hipótese quase nunca de chuva ou tempestade, embora em Acapulco eu já tenha presenciado várias vezes o espetáculo estonteante dos tornados se formando no mar e se dirigindo sei lá para que direções.

O tornado é um fenômeno tão curioso quanto o arco-íris. Ele consiste num cartucho rotatório de águas que se dirige ameaçadoramente para a praia e para a cidade ou então desaparece no mar misteriosamente.

Mas eu não quero tirar férias para ver tornados.

Eu quero tirar férias para descansar o esqueleto e assim poder concatenar melhor meus pensamentos.

Mas é que quando a gente se vicia na cidade da gente, pode até não apreciá-la muito, mas se apega a ela de um jeito que resolve todos os códigos que ela possui.

Esses dias, por exemplo, depois de pagar estacionamento em um dos hospitais de Porto Alegre durante uns 15 anos, descobri que há isenção para quem vai fazer exames e até consultas por lá. Dão um selinho que se cola ao ticket de estacionamento e ganha-se assim gratuidade. E quanto dinheiro eu gastei por ignorância ou desinformação pura, anos a fio!

É assim, a gente vai conhecendo aos poucos a cidade da gente e fica tão acostumado com ela, que há um desajeito em viajar em férias e sair da aldeia que se domina.

Dirigi-me até a clínica de redução peniana que foi inaugurada na semana passada em Porto Alegre e fui logo dizendo na consulta ao cirurgião plástico: “Doutor, para melhor funcionamento do órgão, corte uns 80%”.

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