16
de dezembro de 2012 | N° 17285
PAULO
SANT’ANA
O rancho dos
marginais
O
meu amigo Padilha me contou sobre um assalto que sofreu o amigo dele.
Calçaram-no
dois assaltantes, a vítima dirigia seu carro. Viram que ele não tinha dinheiro,
somente um cartão de crédito corporativo.
Levaram-no
então a supermercado e fizeram um rancho, vários quilos de picanha, uísque,
champanha, xampu, muitos frascos de xampu, salgadinhos, doces, tortas, enfim,
uma série de itens alimentícios, tudo no valor de R$ 750.
Depois,
soltaram o assaltado e levaram o carro dele.
Não
é a primeira nem última vez que o objetivo do roubo é fazer rancho no
supermercado: o colega Moisés Mendes teve seu cartão de crédito clonado e lhe
foi comunicado pela própria direção do cartão que os ladrões fizeram também um
rancho no supermercado no valor de R$ 780.
É,
tem muita gente roubando para passar bem com fartura no rancho.
Surgiu
a hipótese remota mas ao mesmo tempo concreta de que eu venha a tirar férias
neste verão.
Como
nunca tiro férias, estou desajeitado para deixar de trabalhar durante uns 15
dias.
Não
sei o que farei nas férias nem para onde vou. Atualmente, nenhum lugar me
atrai.
O
que eu queria mesmo era conhecer os lugares santos em Israel, conheço
praticamente o mundo inteiro mas nunca fui ver os locais em que Cristo foi
crucificado, desceu aos infernos, subiu aos céus e ao terceiro dia ressurgiu
dos mortos, de onde há de vir e julgar tanto os que já morreram através dos
tempos quanto os que estiverem vivos.
Outro
lugar que me atrairia seria o Caribe, nunca fui lá. Só conheci o Caribe
mexicano, Acapulco e Cancún, as águas do mar lá me sorriram claras e quentes,
não havendo hipótese quase nunca de chuva ou tempestade, embora em Acapulco eu
já tenha presenciado várias vezes o espetáculo estonteante dos tornados se
formando no mar e se dirigindo sei lá para que direções.
O
tornado é um fenômeno tão curioso quanto o arco-íris. Ele consiste num cartucho
rotatório de águas que se dirige ameaçadoramente para a praia e para a cidade
ou então desaparece no mar misteriosamente.
Mas
eu não quero tirar férias para ver tornados.
Eu
quero tirar férias para descansar o esqueleto e assim poder concatenar melhor
meus pensamentos.
Mas
é que quando a gente se vicia na cidade da gente, pode até não apreciá-la
muito, mas se apega a ela de um jeito que resolve todos os códigos que ela
possui.
Esses
dias, por exemplo, depois de pagar estacionamento em um dos hospitais de Porto
Alegre durante uns 15 anos, descobri que há isenção para quem vai fazer exames
e até consultas por lá. Dão um selinho que se cola ao ticket de estacionamento
e ganha-se assim gratuidade. E quanto dinheiro eu gastei por ignorância ou
desinformação pura, anos a fio!
É
assim, a gente vai conhecendo aos poucos a cidade da gente e fica tão
acostumado com ela, que há um desajeito em viajar em férias e sair da aldeia
que se domina.
Dirigi-me
até a clínica de redução peniana que foi inaugurada na semana passada em Porto
Alegre e fui logo dizendo na consulta ao cirurgião plástico: “Doutor, para
melhor funcionamento do órgão, corte uns 80%”.
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