15
de dezembro de 2012 | N° 17284
EDITORIAIS
ZH
DECLARAÇÃO DE
GUERRA
Acirra-se
de forma preocupante o confronto entre as forças políticas que controlam o
governo e a oposição no país, especialmente depois que vieram a público
denúncias envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao
ver seu principal líder fustigado por suspeitas que não se dispõe a explicar
satisfatoriamente, o Partido dos Trabalhadores mobilizou-se para uma guerra –
declarada abertamente por alguns de seus líderes –, assumindo o papel de vítima
de um suposto complô do qual fariam parte rivais políticos, a imprensa e até o
Supremo Tribunal Federal (STF).
Numa
reação epidérmica, uma comissão do Congresso controlada por aliados do governo
chegou a trocar a convocação do criminoso condenado Marcos Valério de Souza
pela do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – um gesto irracional e
absolutamente desvinculado da realidade.
Diante
do impacto provocado pelo conteúdo das denúncias e da dimensão que o assunto
tomou a esta altura, a estratégia de subestimar os fatos, adotada por
militantes petistas, ou de supervalorizá-los, como insiste parte de integrantes
da oposição – em ambos os casos motivados por interesses eleitorais – é a pior
das alternativas. O que veio à tona até agora é o fato de que, depois de
condenado e antes de tomar conhecimento de sua pena, o operador do mensalão
teria levado ao Ministério Público denúncias que já eram do conhecimento em
alguns meios, mas que ainda não haviam sido formalizadas.
Uma
delas é a de que despesas pessoais do ex-presidente da República teriam sido
bancadas pelo esquema. Outra, que o PT cobrava uma espécie de “pedágio” de
agências prestadoras de serviços ao Banco do Brasil. Alguém, fora do círculo de
pessoas envolvidas de alguma forma com os episódios denunciados, poderia
imaginar que a melhor saída é simplesmente ignorá-los?
Certamente,
sobram razões para desconfianças em relação ao conteúdo e a possíveis
motivações das denúncias. O próprio Ministério Público tem agido com cautela,
até mesmo para evitar prejuízos ao final do julgamento do mensalão.
Ainda
assim, insistir em teses como a de que o depoimento deve ser arquivado, sob
alegações como a de que o ex-presidente está blindado pelo legado deixado ao
país, é negar o direito à sociedade de tomar conhecimento do que constitui de
fato verdade e do que não merece crédito. Tudo isso só contribui para alimentar
ainda mais o clima de guerra e para reforçar a sensação de impunidade no país.
As
tensões provocadas pelas denúncias do operador do mensalão poderiam ter sido
menores se o ex-presidente Lula não insistisse em simplesmente considerá-las
como mentira, quando a gravidade dos fato apontados exige explicações
convincentes. A sociedade não tem como se conformar, nesse caso, com
explicações de ministros do governo que o sucedeu, convocados às pressas para a
missão, muito menos com alegações batidas e inaceitáveis como a de que tudo não
passa de conspiração da imprensa.
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