terça-feira, 11 de dezembro de 2012



11 de dezembro de 2012 | N° 17280
DAVID COIMBRA

É a rainha quem está à porta

A rainha Vitória amava profundamente o seu marido, o príncipe Alberto. Ele era um alemão de cabelos negros, olhos azuis e temperamento afável. Imagine que, depois da sua morte, ela continuou separando-lhe as roupas todas as manhãs e estendendo-as amorosamente na cama, como se o príncipe fosse vesti-las depois do desjejum, para em seguida sair caminhando com as mãos às costas, num doce passeio pelos jardins do palácio, que é o que fazem os príncipes. Esse ritual Vitória repetiu por 40 anos a fio depois da morte de Alberto, numa inabalável fidelidade póstuma.

Mesmo assim, volta e meia eles brigavam, como qualquer casal plebeu. Alberto era um homem pacato e conciliador, e quase sempre contornava as desavenças. Mas um dia, não. Um dia, Vitória foi grosseira, ele se irritou e deixou-a falando sozinha. Marchou para seus aposentos e lá se trancou.

Vitória, como qualquer mulher, em qualquer tempo, em qualquer parte do mundo, saiu atrás. Deparando com a porta fechada, esmurrou-a com suas pequenas mãos, que toda ela era pequena, a não ser na velhice, quando tornou-se larga.

– Quem é? – perguntou Alberto, lá de dentro.

– A rainha da Inglaterra! – bradou Vitória, do alto do seu orgulho.

Silêncio. Furiosa, ela bateu à porta de novo, e de novo Alberto perguntou:

– Quem é?

– A rainha da Inglaterra! – voltou a responder Vitória com altivez real.

Mais uma vez, o príncipe manteve-se em silêncio. Vitória vacilou por alguns segundos. Então, bateu à porta novamente, desta feita com mais brandura.

– Quem é? – foi a pergunta que ouviu.

– Tua esposa, Alberto – foi a resposta que deu.

Dez segundos depois, a porta se abriu e Vitória, banhada em lágrimas, atirou-se ao pescoço do marido, pedindo desculpas.

Compreendeu, Vitória, que de nada importava ela ser rainha da Inglaterra, se não fosse esposa de Alberto. São as relações pessoais que fazem uma pessoa feliz, não suas realizações ou suas façanhas.

Pessoas, digamos, “públicas” correm esse risco de confundir sua vida pessoal com o personagem. No Brasil, poucas pessoas são tão cobradas, amadas, odiadas e criticadas quanto os dirigentes e os técnicos de futebol. Os que conseguem separar a vida pessoal da atuação pública, atingem o equilíbrio, e isso se reflete inclusive nas suas composições políticas e, desta forma, se refletirá na carreira.

Afinal, política é relacionamento. Já os ressentidos, por maiores que sejam suas realizações, estão sempre distantes das pessoas. Pelo menos das pessoas que realmente importam, que são as próximas. Olhe para os personagens do futebol que estão por aí e aprenda como fazer. Ou como não fazer.

Elegância e grandeza
A política da Dupla Gre-Nal é um exemplo de ressentimentos não resolvidos. Mau exemplo. Ainda assim, há o que se possa destacar de positivo. Luigi tem conseguido manter a elegância, a despeito dos ataques que sofre. E a manutenção de Antonini na Arena é uma prova de grandeza de Fábio Koff.

Nome na história
Odone mereceu a ovação que recebeu em seu discurso no sábado passado. Ele já está na história do Grêmio, e não apenas pela construção do novo estádio. Odone assumiu a presidência nas piores horas, quando raros eram os que queriam o cargo. E, em alguns anos, tornou o Grêmio um clube equilibrado, pronto para a nova era da Arena.

É pouco
A nova direção do Grêmio anuncia a intenção de contratar quatro ou cinco jogadores, entre eles um atacante de velocidade. É pouco, quase nada. Se o Grêmio não contratar pelo menos dois goleadores, fracassará em 2013.

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