sábado, 29 de dezembro de 2012



30 de dezembro de 2012 | N° 17298
QUASE PERFEITO | Fabrício Carpinejar

“Estava namorando um cara havia quatro meses. Ele tinha no perfil dele 150 amigos, sendo que mais de 100 eram mulheres. De repente ele adicionou uma que comecei a perceber que não parava de segui-lo em todas as postagens. Tudo ela curtia, comentava e mandava beijos.

Ele me disse que não a conhecia pessoalmente, tampouco falava com ela. Até que a adicionei, ela aceitou, conversamos por mensagem, e ela me contou que conversam sempre, mas não têm vínculo. Fiquei braba, pedi para ele excluí-la e ele não aceitou. Terminamos. Estou louca? Uma mulher dá em cima do meu namorado e ele não faz nada. Estou desnorteada. Um abraço, Rafaela.”

Talibã do amor

Querida Rafaela!

As rupturas acontecem por picuinhas. Por brigas tolas. Jamais por assuntos sérios e de interesse maior.

É um ciuminho que se transforma em intolerância, é uma descortesia ingênua de tarde que migra para a difamação ao final da noite.

Com os desentendimentos menores, não imaginamos que vamos nos separar e desprezamos as reservas. Atacamos com ênfase, despreocupados, e passamos dos limites.

Com as discussões sérias, antevemos a gravidade do encontro e cuidamos de uma por uma das palavras. Temos mais paciência e flexibilidade.

Julgo mais fácil se separar por não lavar a louça do que por infidelidade.

Vejo que você chamou atenção para a importância da amiga dele – de flerte alçado à ameaça. Curiosamente toda mulher ou homem escolhe a sucessora ou o sucessor pelo ciúme. O ciúme faz a transferência da coroa e do cetro. Aponta quem é perigoso e com condições de ocupar o papel principal nos próximos capítulos da novela.

A amiga poderia se deleitar em ações platônicas: curtir, postar, comentar a página de seu namorado, desde que ficasse isolada na admiração. Seriam iniciativas inofensivas. O problema é que (VOCÊ) não conteve a irritação e exagerou na dose. Quis mostrar quem mandava e contra-atacou. Nem pelo medo de perdê-lo, e sim para testar sua influência. O amor sempre fracassa quando vira disputa de poder. O amor é despoder, confiar e não cobrar provas. Pena que realizou o contrário, solicitando demonstrações visíveis de dependência e respostas imediatas.

Travou uma guerra extremista desnecessária: ou ela ou eu. Supervalorizou a figura dela, a ponto de colocá-la no mesmo patamar de intimidade. Pôs uma completa desconhecida como rival ao adicioná-la, trocar mensagens e xeretear possíveis laços.

Não está louca, tampouco está certa. A mulher deu em cima, porém excluir ou rejeitar um contato superficial é promovê-lo.

Também tomaria cuidado com as restrições que se assemelham falsamente a prevenções. Prevenir não é limitar, prevenir é conversar e aceitar a escolha do outro. Não devemos mandar ou ordenar em nome do amor.

Sua estratégia não foi inteligente. Se ele não cumprisse o que desejava, já não servia. Não tinha saída negociável, não gerou conscientização gradual e consistente, tratava-se de um ultimato.

No namoro, as proibições são insaciáveis e nada recomendáveis. É excluir nomes no Facebook, depois excluir nomes no celular, depois excluir nomes da lista de festa, depois excluir nomes entre os amigos, até que não exista mais ninguém para pedir colo e nos consolar pelo fim do namoro.

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