13
de dezembro de 2012 | N° 17282
PAULO
SANT’ANA
Traição no
ar
Disponho-me
a discutir num seminário se é lícito à imprensa invadir a privacidade dos
presidentes da República e ex-presidentes, a ponto de noticiar-se que Fernando
Henrique Cardoso tinha um filho adulterino e esse oceano de insinuações que
estão sendo levantadas contra Lula da Silva sobre sua relação com a ex-chefe de
gabinete da Presidência da República em São Paulo.
As
notícias sobre Lula chegam ao ponto de afirmar-se que ele viajava nos aposentos
íntimos do Aerolula com Rosemary Noronha, dezenas de viagens.
É a
primeira vez que se noticia, é verdade, que um presidente da República mantém
relações extraconjugais no espaço aéreo.
Mas
era para isso que servia o AeroRose?
O
centro da discussão sobre esse aspecto da ética jornalística é saber-se se um
presidente da República tem ou não o direito de ser infiel sem ser molestado
por isso pelo noticiário dos jornais.
Haverá
nesse seminário certamente opiniões de que a figura do presidente da República
é tão pública, que ele não tem o direito de incidir nessas peripécias
aeronáuticas de Lula.
Mas,
por outro lado, haverá opiniões defendendo o direito de infidelidades
circunstanciais do presidente da República, Getúlio Vargas era namorador, João
Goulart não era flor que se cheirasse e são conhecidas as aventuras amorosas de
Juscelino Kubitschek.
Por
que Lula não teria, então, direito a aeromodelismos com clandestinidades
nupciais?
É de
tal monta essa bisbilhotice da imprensa, que paralelamente ao escândalo
revelado pela Operação Porto Seguro são lançadas farpas no noticiário sobre o
contubérnio romântico entre Lula da Silva e Rosemary Noronha.
Foram
mais de 20 viagens de Lula no AeroRose. Cá para nós, se tornariam enfadonhas
para o presidente essas longas viagens se não houvesse uma distraçãozinha para
ornamentá-las.
Ninguém
é de ferro.
Verdadeiras
heroínas da resistência são as esposas dos presidentes e ex-presidentes. Elas
suportam com estoicismo o noticiário insistente da imprensa sobre a
infidelidade de seus maridos.
Umas
nem dão bola. Outras, no entanto, se magoam profundamente.
Mas
nunca houve, a não ser que me engane, alguma esposa de presidente ou
ex-presidente que tenha se separado de seu marido por isso.
Elas
meio que compreendem que seus cônjuges são tão famosos, que fatalmente
acabariam alvos do sensacionalismo da imprensa.
O
pior ônus das primeiras-damas é de serem consideradas sempre traídas.
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