10
de dezembro de 2012 | N° 17279
KLEDIR
RAMIL
Natal em
família
Natal
em família é sempre uma alegria e uma grande confusão. Reunir a família –
qualquer família – é um risco que deveria ser acompanhado pela Brigada Militar,
para evitar maiores problemas.
Como
vocês sabem, faço parte de uma tribo que tradicionalmente se reúne no fim do
ano. O local é sempre o mesmo, a casa da mãe na praia do Laranjal, em Pelotas.
Somos um monte de irmãos que, seguindo as ordens do Chefe, cresceram e
multiplicaram-se. Essa mania da humanidade de acasalar e procriar já anda pela
casa dos 7 bilhões e nossa modesta contribuição se resume a 36 seres humanos.
Por enquanto.
O
problema de juntar 36 pessoas na volta de uma mesa começa na hora de definir a
ceia de Natal. Existe na família uma ala vegetariana, que cresce a olhos
vistos. Entre os irmãos, há uma nova tendência dos intolerantes a lactose. E há
um sem-número de restrições alimentares por conta da saúde debilitada de uns e
outros, que ano após ano aumenta em proporção assustadora.
Temos
os diabéticos, os cardíacos, os hipertensos, os alérgicos, os de colesterol
alto e os cheios de frescura, como eu. Isso sem falar dos que apresentam
transtorno obsessivo compulsivo. Ou seja, chegar a um acordo sobre o cardápio
da noite de Natal é uma tarefa de gincana, administrada com sabedoria e
paciência pela Dona Dalva.
A
escolha dos presentes também é motivo de tensão. Já há alguns anos se
estabeleceu a prática do amigo secreto. Um para os adultos e outro para a
gurizada. Com um valor determinado de gasto, para não haver a injustiça de
alguém dar uma TV LED 3D e ganhar um par de meias, com a desculpa de que “é
apenas uma lembrancinha”.
Este
ano, surgiu a ideia de um amigo secreto único, reunindo velhos e jovens, e a
coisa virou um caos, uma loucura. Ânimos exaltados, grosserias, acusações. Como
até agora não houve consenso, estamos pensando em chamar o Joaquim Barbosa.
Na
hora de escolher quem seria o Papai Noel, a situação fugiu ao controle. Os
primeiros citados foram os de barriga mais avantajada e aí, se ofenderam.
Começaram a se xingar e chegaram a questionar a masculinidade uns dos outros.
Com
insinuações do tipo “e tirou o lenço de seda da Pérsia do bolso de seu paletó e
secou a lágrima do amigo de tantos anos...”. Sim, o bate-boca é em alto nível e
por vezes até poético. O que não diminui sua carga de agressividade.
Tudo
isso por e-mail e telefone. Imagina quando se encontrarem na noite de Natal.
Vamos precisar da Brigada Militar.
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