24/12/2012
e 25/12/2012 | N° 17293
PAULO
SANT’ANA
Férias que
atrapalham
Estou
sem saber o que fazer com minhas férias. Obrigações familiares me forçam a
tirar férias.
A
lei nunca conseguiu me obrigar a tirar férias, tanto que faz mais de 30 anos
que não tiro férias. E é verdade que sempre recebi financeiramente, como manda
a lei trabalhista, para tirar férias.
Mas
eu vou ter de tirar férias dentro de breves dias. Como disse a Mariana Kalil em
brilhante página no domingo, as férias me atrapalham.
Eu
sei bem por que as férias me atrapalham mais: porque então sou obrigado a
deixar de escrever esta coluna. E escrever esta coluna já faz parte do meu DNA.
Se
tiro férias, portanto, quebro a minha rotina, o meu andar, o meu galope e o meu
trote. Um Paulo Sant’Ana de férias é o mesmo que o Lula sem presidência, fica
desajeitado.
Um
grande colunista só deveria tirar férias quando caísse doente e fosse recolhido
ao hospital, como o Verissimo, embora ele tire férias periódicas quando não
está doente. E agora não está mais doente e vai voltar, graças a Deus, à coluna
duas vezes por semana.
E eu
incrivelmente não tiro férias quando estou doente.
A
mim, por exemplo, nunca nenhum patrão ou diretor me sugeriu que eu escrevesse
duas colunas por semana, hábito agora de todos os grandes colunistas.
Eu
sou obrigado a escrever sete colunas por semana porque a minha inspiração é
abundante.
Isso
me faz lembrar o Moacyr Scliar, que escrevia para 23 jornais e revistas. Uma
vez, o Zini Pires é testemunha, nós lemos o Scliar numa revista alternativa
escrevendo sobre móveis. Móveis de madeira. Ele abordava qualquer assunto, não
havia assunto que ele não soubesse. Eu nunca vi um jornalista escrever tanto
como o Scliar. O meu caso é diferente: nunca foi visto um jornalista escrever
sete dias por semana com tamanha inspiração. Sobre isso, já escrevi um dia que
a modéstia é uma hipocrisia dos medíocres.
Mas
e as minhas férias? Que farei delas? Não consigo entender como possa eu
aproveitar as minhas férias.
Acostumei-me
tanto a escrever uma coluna por dia, que não sei como farei para não
escrevê-la.
Outra
coisa que cabe dentro da minha confessa megalomania: o que será dos meus
leitores quando passarem 15 dias sem ler minha coluna em férias? O que farão
meus leitores diante desse vazio existencial?
Eu
aconselharia os meus leitores, durante os 15 dias das minhas férias, a lerem o
Carpinejar e o David Coimbra: pode não adiantar, mas será um consolo.
O
Carpinejar e o Coimbra serão excelentes estepes, não é sempre, mas existem
paródias que são satisfatórias.
E só
um idiota não iria perceber que o Carpinejar e o David Coimbra são cronistas de
futuro. Eu prevejo para eles grandes horizontes, são dois grandes e promissores
colunistas.
E um
jornal, como um grande time de futebol, não depende só de seus astros, tem que
ter plantel para encarar os anos inteiros de atividade.
Eu,
por exemplo, me delicio lendo no Caderno Vida de ZH o Dr. J.J. Camargo uma vez
por semana, sua coluna é um manjar dos deuses.
Um
jornal não pode ser considerado só pelo seu maior expoente. O que interessa é o
conjunto da obra.
Além
do que, chega um dia em que o astro rei finalmente é obrigado a tirar férias.
Embora
eu nunca soubesse que o Sol tirasse férias. Se isso acontecesse, só iriam
restar a Lua e o David Coimbra.
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