30
de dezembro de 2012 | N° 17298
MARTHA
MEDEIROS
O fim e o
começo
Como era de se esperar, não teve fim de mundo. Mas
2012 não foi um ano qualquer. Muitas pessoas a minha volta sentiram algo
parecido com o que senti: que este foi um ano de intensidade única, com uma
energia capaz de encerrar etapas. Um ano de despedidas, algumas concretas,
outras mais sutis.
Houve
quem tenha terminado casos mal resolvidos, quem tenha se conscientizado de um
problema que não queria ver, quem se deu conta da fragilidade de uma situação,
quem tenha aceitado um desafio que exigiu coragem, quem tenha enfrentado uma
situação transformadora, quem tenha se jogado num estilo de vida diferente.
Olho para os lados e vejo que 2012 não passou em branco para quase ninguém.
Pelo menos não para mim, nem para pessoas próximas.
Meu
microcosmo não revela o universo inteiro, lógico. Você talvez não tenha
percebido nada de incomum no ano que passou, mas ainda assim seria interessante
promover um fim categórico, encerrar o ano colocando uma pedra em algo que não
lhe convém mais.
Geralmente chegamos ao final de dezembro focados apenas no
recomeço, na renovação, nos planos, sem nos darmos conta de que, para que
nossas resoluções sejam cumpridas mais adiante, não basta pular sete ondas,
comer lentilhas e outras mandingas. É preciso que haja, sim, o fim do mundo. O
fim de um mundo seu, particular.
Qual
o mundo que você precisa exterminar da sua vida?
Sugestão:
o mundo do bullying cibernético. Ninguém é autêntico por esculhambar o trabalho
dos outros, sendo agressivo e mal-educado só porque tem a seu favor o anonimato
na internet. Perder horas na frente do computador demonstra sua total
incapacidade de convívio. Bum! Fim desse mundo estreito.
O
mundo da prepotência, aquele que faz você pensar que todos lhe estenderão um
tapete vermelho sem você precisar dar nada em troca. Qualquer um pode ser
profético quanto a seu futuro: passará o resto da vida achando que ninguém lhe
dá o devido valor, isolado em sua torre de marfim.
O
mundo obcecado do amor doentio, aquele amor que só persiste pelo medo da
solidão, e que de frustração em frustração vai minando sua possibilidade de ser
feliz de outro modo.
O
mundo das coisas sem importância. Quanta dedicação ao sobrenome do fulano, à
conta bancária do sicrano, à vida amorosa da beltrana, o quanto ela pagou, o
quanto ele deveu, quem reatou. Por cinco minutos, vá lá. Os neurônios precisam
descansar. Mas esse trelelé o dia inteiro, socorro.
O
mundo do imobilismo. Do aguardar sem se mover. Da espera passiva pelo momento
certo que nunca chega.
2012
prenunciou um cataclismo, só que não era global, e sim individual. Impôs que
cada um desse um fim à vida como era antes e que promovesse uma mudança
interna, profunda e renovadora. Feito?
Então
que venha um 2013 do outro mundo para todos nós.
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