24/12/2012
e 25/12/2012 | N° 17293
POLÊMICA
EM JERUSALÉM
Tumba com nomes bíblicos provoca
um duelo judicial
Documentarista
processa antropólogo que contesta filme sobre suposto túmulo de Jesus e de
familiares
Enquanto
o mundo cristão comemora o nascimento de Jesus Cristo, documentário de cinco
anos atrás sobre a suposta descoberta, em Jerusalém, do túmulo que poderia
abrigar os restos do carpinteiro da Galileia e de sua família provoca um duelo judicial
em Israel.
O
documentarista israelense Simcha Jacobovici ingressou com ação por danos morais
na Justiça contra o antropologo Joe Zias. O motivo do processo são as críticas
de Zias ao teor do teledocumentário O Túmulo Perdido de Jesus (2007), exibido
pelo Discovery Channel, coautoria entre Jacobovici e o cineasta hollywoodiano
James Cameron (Titanic).
Apolêmica
dorme na mesa do juiz Jacob Shienman, da cidade de Petah Tikva, ecoando desde a
Terra Santa para todo o mundo. Porém, mais polêmico que o bate-boca entre os
dois estudiosos, com Jacobovici se dizendo agredido pelas dúvidas levantadas
por Zias a respeito do local onde teriam sido encontrados os pregos do
crucifixo, é o conteúdo do filme. Basicamente, ele mexe com a seguinte dúvida: onde
estaria o túmulo de Jesus e sua família? E outras vêm na sequência, a respeito
das próprias figuras bíblicas de Jesus e de Maria Madalena.
Pois
o documentário trata de dar respostas, especialmente quanto à localização da
tumba. Conta que, em 1980, nas escavação para uma obra no bairro de Talpiot, em
Jerusalém, os operários descobriram um túmulo judeu que datava do século I. Jesus
e sua família eram judeus praticantes.
Dentro
da tumba, havia 10 ossários, seis deles com os nomes dos mortos gravados em
aramaico ou hebraico. Em um, constava “Yeshua bar Yosef “(Jesus filho de José).
Nos outros, “Maryam” (Maria), “Yosa” (apelido de José), “Matya” (Matheus),”Yeuda
bar Yeshua” (Judas filho de Jesus) – e, para espanto dos estudiosos, “Marya’ne”(Maria
Madalena).
A
descoberta suscita curiosidade e debate entre acadêmicos e religiosos.
– Há
um diálogo de surdos entre interesses religiosos, científicos e midiáticos. Do
ponto de vista histórico e científico, a tumba não traz repercussões. Ninguém
duvida da existência histórica de Jesus. E José e Jesus eram nomes dos mais
comuns na época – diz José Hildebrando Dacanal, autor de Eu Encontrei Jesus (2004).
Igreja
contesta alusões a possíveis restos de Cristo
Um
dos pontos mais polêmicos: dizem estudiosos que dificilmente Jesus poderia ter
sido enterrado em um local que não fosse a Galileia. Mais que isso: Jesus era
desprovido de recursos financeiros, tinha família modesta e vivia na Galileia –
não em Jerusalém. Sendo assim, seu enterro deveria ter sido na Galileia e sem
ornamentos.
Outros
estudiosos do assunto, como Luiz Felipe Ribeiro, professor de Literatura Bíblica
da Faculdade Evangélica de Brasília, concordam que Jesus carecia de recursos
financeiros, mas não descartam o sepultamento em Jerusalém. Nas palavras de
Ribeiro, os ossários encontrados em Talpiot são “intrigantes”.
A
Igreja é refratária a cientificismos. Quaisquer que sejam.
– O
que se sabe é que Jesus foi sepultado, mas ressuscitou e subiu aos céus – diz
dom Remídio Bohn, bispo de Cachoeira do Sul.
Portanto,
não haveria restos mortais.
leo.gerchmann@zerohora.com.br
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