18
de dezembro de 2012 | N° 17287
LUÍS
AUGUSTO FISCHER
Celeiro de quê?
Não é
só o título mundial do Corinthians que evidencia a coisa: o Rio Grande do Sul
tem produzido a maioria dos mais destacados técnicos de futebol no Brasil. Felipão,
Tite, Dunga, Celso Roth, Mano Menezes e por aí vamos. Em compensação, tem
gerado escassíssimos políticos de primeira linha no país. Por quê?
Tese
número 1: fazemos aparecer essa quantidade de técnicos assim, em proporção
parecida com a de políticos talentosos de gerações passadas, porque somos pragmáticos.
Entre esses antigos políticos e os atuais técnicos se encontra essa
impressionante parecença: nenhum foi ou é capaz de pensar, de formular em
termos abstratos sua prática, de filosofar sobre seu metiê. Sabemos fazer, não
dizer como se faz. Isso não é ruim em si, nem bom em absoluto, mas sintomático.
Tese
número 2: os antigos políticos e os atuais treinadores de futebol se deram e dão
bem porque jogam o jogo tal como dado, estabelecido, segundo regras estáveis. Não
quer dizer que Vargas tenha sido um anjo no cumprimento da regra democrática,
bem longe disso; nem quer dizer que os boleiros não burlem as leis aqui e ali: quer
apenas dizer que gaúchos levam ao extremo suas capacidades de atuação segundo
marcos dados – não segundo invenção de regras, criação de novas realidades etc.
Somos disciplinados na busca de um objetivo dentro do horizonte dado, mas não
sabemos inventar novos jogos.
Tese
número 3: nem dos políticos gaúchos do passado, nem dos treinadores sul-rio-grandenses
de futebol do presente se pode esperar beleza. Apenas eficácia. Getúlio
reinventou o Brasil, em seu larguíssimo tempo de mando, quase 20 anos somando
tudo, mas dele a lembrança é fugidia e muitas vezes renegada; Juscelino,
mineiro e, como tal, em fácil aliança com cariocas, fez Brasília, uma ilha da
fantasia (ou do pesadelo), gastou os tubos e se imortalizou como sensível,
inteligente, fino.
Zagalo,
alagoano mas carioca, ganhou de presente aquela geração mágica da Copa de 70 e
entrou para a história pelo futebol bonito; Dunga como capitão e Felipão como
treinador entraram nos livros de história não como campeões do mundo em condições
ferozes de competição, mas como retranqueiros prudentes que contaram com
atacantes de estrela.
Enfim,
conversa de bar. Nesse calor, um chope e tal, pode ser que renda.
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