15
de dezembro de 2012 | N° 17284
PAULO
SANT’ANA
As pirâmides
Euclides
da Cunha disse em Os Sertões que o “sertanejo é antes de tudo um forte”. Isso
porque ele não conhecia o gaúcho. Não há ninguém mais forte do que nós.
Digo
isso porque me foi designada anteontem uma ressonância magnética da região
craniana. Amigos leitores, eu conheci então as cercanias do inferno. Lá estava
eu na sala da ressonância magnética do Hospital Moinhos de Vento.
À
minha frente, um tubo sinistro onde eu deveria penetrar e ficar por mais de 30
minutos.
O
médico anestesista de sobrenome Zottis foi gentil comigo: ofereceu-me sedação
para que eu pudesse enfrentar o lenho. Eu olhei para aquelas circunstâncias
todas ameaçadoras e respondi altivamente para o médico. “Recuso a sedação, eu
sou gremista, vou entrar neste tubo de cara limpa”.
E lá
fui eu para o martírio. Ofertei pânico e obsequiosa resistência para meus
algozes. Mas aguentei no osso do peito os 30 minutos de ansiosa e desesperada
claustrofobia.
Pior
do que suportar 30 minutos de tortura é ninguém, o que é errado, dizer pelos
fones que me enfiaram no ouvido, quantos minutos faltavam para terminar o
calvário.
Se a
gente ouvisse “faltam 25 minutos” e depois “faltam 15 minutos”, mais tarde
“faltam cinco minutos”, o sofrimento seria aliviado. É que naquela furna exígua
se perde a noção do tempo e parece que o tormento nunca vai terminar. Mas
terminou.
E,
depois que terminou, eu fiquei me analisando: “Olhem, eu sou um homem. Quem
passa por esse infortúnio sem exigir sedação é um homem. Eu achei que me
faltavam atributos para me considerar um homem. Mas agora não resta dúvida, eu
sou um homem! Ai de quem duvide disso”.
Tenho
sofrido muito, sacrificados exames, extenuantes exercícios fisioterápicos,
ingestão de muitos comprimidos por dia. Enfim, uma saga de paciente
extraterminal. A tudo tenho suportado com estoica coragem.
Mas
participei ontem com entusiasmo das solenidades dos 50 anos da RBS TV. Era de
se ver a emoção do Nelson Sirotsky, do Duda Melzer, do seu Jayme e de todos os
dirigentes com as cerimônias.
Era
de se ver em todos os atuais e ex-servidores da RBS TV o orgulho por terem
sustentado até hoje essa estupenda obra do destino.
E,
quando me colocaram na tela ao lado de Tânia Carvalho, Glênio Reis, Maria do
Carmo, Celestino Valenzuela, Cláudio Andara, Antônio Augusto Fagundes, Balala
Campos, Ruth Regina e tantos outros antigos e inesquecíveis colegas meus de
Jornal do Almoço, não me contive e pronunciei a célebre frase de Napoleão
Bonaparte ao invadir o Egito: “Do alto destas pirâmides, 40 séculos nos
contemplam”.
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