David Coimbra
O
que mais me marcou no duelo Zidane versus Ronaldo que assisti ao vivo, do
conflagrado campo de batalha, foi uma veia azul que vi saltar da fronte de
Zidane e correr comprida como um rio Nilo pelo lado do seu rosto, descendo-lhe
pescoço abaixo e desaguando sob a gola da camisa da seleção francesa.
Faltavam
poucos minutos para começar a decisão entre Brasil e França, nas quartas de
final da Copa de 2006. Zidane falava com seus companheiros de time reunidos
numa rodinha num canto do gramado do Estádio de Frankfurt. Aquela veia era a
evidência da ênfase com que ele se dirigia aos seus colegas. Olhei para os
meus, da RBS, sentados que estávamos na tribuna de imprensa. Estremeci: – O
craque está a fim de jogo.
Temi
pelo Brasil. Até porque sabia muito bem o que havia acontecido no outro duelo
entre os dois grandes jogadores: na final da Copa de 1998, Ronaldo sofreu
aquele ataque apoplético até hoje inexplicável, entrou em campo vagando feito
um zumbi e Zidane se aproveitou, marcou dois gols, conduziu a França a golear a
Seleção Brasileira num humilhante 3 a 0 e levantou a taça do mundo.
Bem,
o que ocorreu em Frankfurt naquele verão europeu talvez tenha sido até pior. Porque,
agora, Ronaldo estava na plenitude de suas faculdades. Talvez estivesse um
pouco acima do peso, verdade, mas, mentalmente, parecia tudo OK. Além disso,
ele contava com o auxílio luxuoso de Ronaldinho.
Quer
dizer: o Brasil era muito mais forte do que a França. Só que, em campo, não foi
o que valeu. O que valeu foi a categoria de Zidane. Nos primeiros minutos ele já
havia dado um balãozinho, exatamente, em Ronaldo, num símbolo da sua
superioridade sobre o melhor jogador do Brasil.
Depois,
regeu seu time com um futebol macio, olhando para um lado e tocando a bola para
outro, encontrando espaços onde espaços não havia, evoluindo soberano em meio a
três, quatro marcadores, avançando sempre.
Aos 12
minutos do segundo tempo, Roberto Carlos foi ajeitar o meião numa cobrança de
falta e deu no que deu.
Nenhum
jogador na história do futebol mundial fez com a Seleção Brasileira o que fez
Zidane. E sempre jogando contra Ronaldo.
Hoje
Ronaldo tem uma chance de recuperação. A Copa não está em jogo, a partida não
contará pontos, mas, emocionalmente, valerá muito: desta vez eles jogam por uma
causa. Eles e seus times estarão subordinados a um propósito maior, e isso é raro
no futebol e na vida.
O
que não quer dizer, é claro, que Ronaldo, mais magro e bem preparado, não vai
querer a desforra. E que Zidane não vai
querer ganhar outra vez do Brasil. Assim, se você estiver na Arena do Grêmio
e vir aquela veia azul saltando-lhe da fronte, prepare-se: a briga será dura.
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