sexta-feira, 7 de dezembro de 2012



07 de dezembro de 2012 | N° 17276
PAULO SANT’ANA

Meus ícones

O idealizador do fumódromo do prédio aqui da RBS deve ter sido o Albert Speer, o arquiteto de Hitler.

A temperatura ambiente do fumódromo é de 60°C. Se se colocar um frango cru ali dentro do fumódromo, em 20 minutos ele estará assado.

Eu compreendo o ódio que se devota atualmente aos fumantes, mas é demais obrigar-nos a frigir dentro de uma sala durante o consumo de um cigarro, não havendo a mínima chance de estabelecimento de qualquer diálogo em tais senegalescas condições.

Há uma câmera dirigida para a porta do fumódromo, onde está escrita uma imperial observação: “Conserve a porta fechada”.

Se a porta permanecer fechada, torram todos os fumantes lá dentro.

Quem foi o arquiteto, quem é o engenheiro, quem é responsável pela barbárie?

Estou reclamando porque deram meu nome ao fumódromo. Sinto-me representante dos grelhados.

Quando quero ler sobre alacridades frívolas, leio o Fabrício Carpinejar. Quando quero ler sobre a privacidade dos faraós, leio David Coimbra.

Quando quero ler sobre a severidade dos governantes antigos, tipo Borges de Medeiros e Flores da Cunha, leio J. A. Pinheiro Machado.

Quando quero ler qualquer ataque às esquerdas, leio Percival Puggina. E, se quero ler prescrições éticas à imprensa, dou de olhos no que escreve o excelente Marcos Rolim.

Se quero ler sobre dosimetria das penas, prefiro o Cláudio Brito. E, se quero me deliciar com a análise das idiossincrasias dos detentores do poder, leio Paulo Brossard.

Se quero saber como andam as coisas na política estadual e municipal, recorro a Rosane de Oliveira, não me esquecendo nunca do Nílson Souza, da Bela Hammes, do Kadão Chaves, do Flávio Tavares e do Roger Lerina.

Esse é o caleidoscópio semanal em que mergulho no meu jornal, além, é claro, das lúcidas intervenções do Moisés Mendes e do Luiz Antônio Araujo, sempre nos atraindo para aspectos inéditos do cotidiano.

Não deixo de parar por minutos para ler as notas atraentes do nosso Tulio Milman.

No esporte, vou de Diogo Olivier, Zini Pires e Ruy Carlos Ostermann. Sendo assim, é grande o meu espectro jornalístico. Leio todos com sofreguidão e análise crítica, crendo que eles também me leem, não são bruxos para escapar.

O Verissimo e o Wianey, nos últimos dias, me deixaram na mão, recolheram-se a hospitais, onde eu deveria estar e teimo em resistir aos veementes chamados nosocomiais.

Não sei se os leitores estão notando, a minha represália continua em curso: como ninguém me cita, cito todos.

O jornal é uma cachaça e as colunas são pontos de atrativo. Eu, por exemplo, antes de ser colunista, era grande leitor de colunas. Ainda jovem me apaixonei pelos colunistas Nélson Rodrigues e Stanislaw Ponte Preta, parece-me que da Última Hora.

Eu era operário, mas não sei de onde eu conseguia tirar dinheiro para comprar todos os dias a minha Última Hora na banca de revistas da Praça da Alfândega. Era um dever socioíntimo que eu tinha.

Recém deixado de ser menino, filava de meus parentes a revista O Cruzeiro, na qual lia avidamente o texto mais brilhante que já conheci em toda a minha vida: David Nasser.

Eram duas páginas que erigiam ou derrubavam um governo.

Antes, pois, de ser jornalista, fui insistente leitor e antes de ser radialista eu era frequentador de programas de auditório, como o célebre Rádio Sequência de todos os meios-dias, na Rádio Farroupilha da Rua Siqueira Campos.

Eu até acho estranho que me tenha tornado produtor, porque na verdade eu sou intrinsecamente um grande consumidor de imprensa.

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