07
de dezembro de 2012 | N° 17276
DAVID
COIMBRA
Formam-se
opiniões
Outro
dia um sujeito me perguntou:
–
Que tal isso de ser formador de opinião?
Fiquei
pensando. Formador de opinião. Uma função, um cargo. Poderia abrir uma empresa
para essa atividade específica. Algo moderno, com nome em inglês: Formed
Opinion S.A. Ou: Cia da Opinião. “Formam-se opiniões”, diria o meu anúncio. “Você
está sem assunto? Não sabe o que pensar sobre economia, política, futebol? Nós
temos uma opinião pronta para você.
Por
um preço módico, você levará para casa uma opinião ponderada ou polêmica,
engraçada ou dura, a opinião que mais combine com você, junto com toda a
argumentação para defendê-la. Procure-nos! E faça sucesso social”.
Claro
que poucos procurariam a empresa para adquirir opiniões sobre futebol. Todo
mundo acha que entende de futebol. Mesmo assim, para os que quisessem ter
opiniões exclusivas, nossos especialistas forneceriam algumas sobre novos
jogadores africanos que estão atuando na Europa. Qualquer um que fale de novos
jogadores africanos que estão atuando na Europa parece entender muito.
Na
economia é mais fácil formar uma opinião. A economia passa a impressão de ser
uma ciência, de que tudo nessa área é técnico, matemático, resultado de estudos
profundos e inacessíveis. Nós, da Formed Opinion, sabemos que não. Sabemos que,
ao contrário, tudo é vago em economia, tudo é especulação e que tudo muda, às
vezes inesperadamente.
Sabemos
mais: sabemos que Lulu Santos estava certo: a vida vem em ondas, como o mar.
Assim, as crises se sucedem. Está tudo bem com uma economia? Não por muito
tempo. Logo sobrevirá uma crise que a abalará. Portanto, em economia você deve
fazer alertas: diga que o país está bem, mas que é preciso ter cuidado, que não
se pode gastar tanto, que a bolha vai furar. Funciona.
Agora,
complicado mesmo é a política. Claro, você sempre pode resmungar que todos os
políticos são corruptos. Ninguém vai reclamar dessa opinião, embora nós, da
Formed Opinion, saibamos que não é verdade, que os políticos são corruptos na
medida da corrupção da sociedade. O problema, na política, são certos
personagens. Lula, por exemplo. Lula é um carismático e, como todo carismático,
ou é amado ou odiado. Quer dizer: não é possível tecer considerações racionais
acerca de Lula.
Ou
ele é todo ruim ou todo bom. Só que nós, no recôndito do relacionamento com
nossos clientes, podemos dizer a verdade: que Lula tem predicados e defeitos,
como qualquer um, e que seu governo os teve ambos, predicados e defeitos. Mas
nosso conselho é que você não opine diretamente sobre Lula. Apenas faça
observações espirituosas em cima da opinião de alguém. Como fazer observações
espirituosas? Desculpe, vamos ter que refazer o orçamento. Ter opinião é fácil,
fazer observação espirituosa custa muito mais.
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