07
de dezembro de 2012 | N° 17276
EDITORIAIS
ZH
PARCERIA NA
INFRAESTRUTURA
É
compreensível o entusiasmo manifestado pela presidente da República no anúncio
do pacote de R$ 54 bilhões para modernização dos portos. Disse a senhora Dilma
Rousseff que o conjunto de ações equivale à abertura dos portos, anunciada pelo
príncipe regente Dom João de Bragança, em 1808.
Aquela
decisão foi de fato histórica, por representar não só o fim do monopólio de
Portugal no controle do comércio externo brasileiro, mas uma medida com forte
simbolismo liberalizante. O pacote que pretende modernizar o sistema portuário
certamente não terá o mesmo alcance, nem repetirá o sentido histórico do gesto
do início do século 19, mas apresenta o mesmo objetivo de destravar
burocracias, reduzir custos e estimular a competição.
O
que o governo propõe é a abertura dos portos a uma maior participação privada,
e o plano depende, na sua essência, do entendimento entre a União e as
empresas. Tanto que os investimentos serão compartilhados.
Divide-se,
assim, entre o setor público e investidores a missão de aumentar eficiência e
competitividade em uma área decisiva para o crescimento duradouro. O projeto,
que complementa plano lançado anteriormente para as rodovias e ferrovias, faz
com que o governo finalmente ofereça respostas aos apelos do setor produtivo,
em especial os exportadores.
Estudos
sobre os gargalos brasileiros sempre apontaram os portos e as estradas como os
grandes entraves ao desenvolvimento. Nossos portos equivalem aos de países
africanos e aos de nações do Oriente Médio, com economias precárias. O Brasil,
que se reafirma como potência emergente, não pode aceitar comparações desse
nível.
Somos
menos eficientes na área do que Chile, Argentina, México, Panamá. E continuamos
atrás dos sistemas de portos do sudeste asiático e do extremo oriente. Nações
que evoluíram nas últimas décadas só superaram limitações com melhorias na
movimentação de cargas, enquanto o Brasil adiou investimentos que só agora são
definidos.
Anuncia-se
também inovação na gestão portuária e nos critérios de seleção dos operadores,
que levarão em conta não só a menor tarifa, mas também a maior movimentação de
cargas e os investimentos.
Há,
no conjunto de medidas, um salto de qualidade em relação às normas atuais para
os 18 principais portos do país, e um claro esforço no sentido de dar
prioridade, na infraestrutura, às deficiências de transporte. Recentemente,
haviam sido anunciadas as ações para rodovias e ferrovias, com investimentos de
R$ 133 bilhões nos próximos 25 anos.
As
resoluções beneficiam áreas que, ao lado do setor energético, têm importância
estratégica para um país que pretende ampliar sua presença no mercado externo.
Como disse um dirigente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja, o
pacote anunciado representa uma carta de alforria para os produtores
exportadores.
Que
se cumpra a determinação da presidente da República e o Brasil, mais de dois
séculos depois do gesto de Dom João, volte a adequar seus portos aos desafios
do comércio internacional.
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