sábado, 1 de dezembro de 2012



02 de dezembro de 2012 | N° 17271
PAULO SANT’ANA

Despedida da casa

Este domingo é um dia que pode se tornar alegre, mas em essência é muito triste: é o dia dos violões em funeral, o dia do último jogo da história do Olímpico.

Eu conheço a torcida do Grêmio. Toda ela irá chorar à tardinha. A torcida tricolor vai derramar lágrimas de saudade antecipada do Olímpico:

Saudosa maloca, Maloca querida,

Oi didonde nóis passemo

Dias feliz de nossa vida.

Passarão diante dos nossos olhos no estádio os fantasmas da nossa felicidade.

A cena de Ortunho com a cabeça enfaixada com o rubro do seu sangue colorindo a garrafada que ele recebeu da arquibancada.

A cena de Everaldo, naquele jogo noturno, dando um soco no rosto do árbitro Faville Neto, derrubando-o em nocaute ao chão e tendo sido suspenso por um ano do futebol.

A cena que jamais sairá da nosso memória: Renato Portaluppi, quase na bandeira do escanteio, vendo que não tinha possibilidade de erguer aquela bola no gramado ensopado acima daquela muralha de jogadores do Peñarol, deu uma cavadinha na pelota e mandou um balão para dentro da área. César, o centroavante, botou de cabeça para dentro do gol, sagrando o Grêmio pela primeira vez Campeão da América.

Nunca vamos esquecer daquela cena, foi a maior vibração da torcida na história deste estádio sepulto.

Um dos momentos mais inesquecíveis do Estádio Olímpico foi aquele em que o Grêmio enfrentava o Santos, e Pelé e Coutinho, inacreditavelmente, vieram tabelando, de cabeça, do círculo central até a área pequena do Grêmio. Os gremistas se renderam e aplaudiram aquela jogada fantástica.

O voo espetacular de André Catimba depois de fazer o gol da vitória no Gre-Nal decisivo de 1977.

Olímpico do Oberdan, do Paulo Lumumba, do Jardel. Olímpico do Mazaropi, do Juarez, do Gessi, do Mílton, do Eurico, do grande e insuperável Airton Ferreira da Silva, o incrível zagueiro que nunca fez sequer uma falta. Olímpico do Alcindo e de João Severiano.

Eu pretenderia, na tarde deste domingo, fazer minha última volta olímpica no estádio, tantas eu já fiz, em companhia de meu filho Jorge Antônio, com 42 anos, e meu neto Luca, com oito anos, significando as três gerações que frequentaram o estádio.

É um estádio tão amado, que o ex-presidente que o concluiu, Hélio Dourado, recusa-se a pôr os pés na Arena, achando que assim trairia o Olímpico.

Saudosa maloca! O domingo vai ser dia de muitos e derramados prantos.

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