02
de dezembro de 2012 | N° 17271QUASE PERFEITO |
Fabrício
Carpinejar
“Conheci a amante de meu
namorado”
“Olá
Fabrício! Acabei meu namoro ontem. Vivi quase dois anos com uma pessoa que hoje
não tenho mais certeza de quem era de fato. Descobri uma traição. Mantive
contato com a outra garota, que confirmou tudo. Descreveu detalhes que me
fizeram ter certeza de que meu namorado (que mora comigo) aproveitava as tardes
vagas para vê-la.
Viajava
100 km unicamente para encontrá-la. Ele nega. Quero acreditar nele, só que as
evidências são esfregadas na minha cara. Desde ontem tento me convencer de que
faço muito drama por coisa pequena, mas aí me lembro que essa não foi a
primeira vez. Então talvez seja menos drama, e mais verdade. Beijo Manoela”
Querida
Manoela,
Você
cometeu o erro clássico: encontrar-se com a amante dele. Não há maior
humilhação. Deveria ter evitado. Deseja se reconciliar, mas vai fracassar. Não
há como voltar a acreditar em seu namorado.
É
comum o fim do relacionamento depois de conversa séria com a outra mulher.
Recebeu
detalhes que vão fixar a cena da infidelidade a todo instante. Conheceu o rosto
dela, o tipo físico, os hábitos, começará a fazer comparações, a reconstituir
as desculpas furadas, a desconfiar daquilo que viveu de bom. Verá a triste e
inconsolável queda do império amoroso. Não sabe quem ele foi, e pior: não sabe
quem vocês foram juntos.
Toda
a mentira contamina as demais verdades.
A
dor, acrescida da paranoia, torna-se imbatível. Descobrir a traição é difícil,
mas com versão esmiuçada das escapadelas atinge o nível extremo de tortura. Com
o roteiro nas mãos, os olhos reprisam automaticamente o filme. Não tem como
parar o projetor.
Enquanto
não identificava cenários e personagens, restava a tênue possibilidade de
seguir em frente e tentar de novo. Agora é impossível se enganar, dispõe de
atas do romance, atolada em mágoas reais e curiosidades sórdidas. Como
justificar 100 km do namorado por sexo? É mesmo para se sentir ultrajada.
Só
que não caia na lorota da amante. Ela não é mais uma vítima da canalhice dele,
disputando o papel de enganada com você. Não mergulhe no corporativismo do
sofrimento. Ela possuía a exata consciência de suas ações e dos danos do
envolvimento duplo. Aproximou-se com o claro objetivo de ferrar sua relação.
Como talvez seu namorado deu um fim para a história paralela, cumpriu a
chantagem de contar tudo. Criou aquele apocalipse: se não ficarei com ele,
ninguém ficará.
Não
seja ingênua. Ela veio jogar duro. Não realiza caridade ou procura alertá-la
dos perigos da desonra.
Como
último ato, explique para seu ex-namorado a diferença entre honestidade e
desespero. Ele pode confundir os dois.
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