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segunda-feira, 6 de setembro de 2010
06 de setembro de 2010 | N° 16450
L. F. VERISSIMO
A paradinha
Um dos grandes mistérios do Universo é a sua simples existência. De acordo com a física, ele não poderia existir. Quando matéria e antimatéria se chocam, como aconteceu no grande pum que começou tudo, uma teria que aniquilar a outra. Mas isto não aconteceu, para grande perplexidade dos físicos.
A explosão inaugural criou a mesma quantidade de matéria e de antimatéria mas a matéria prevaleceu, venceu a maioria dos seus embates com a antimatéria e formou o Universo como nós o conhecemos. Paradoxo: a prova de que a teoria dos físicos sobre a inevitável aniquilação mútua das partículas e das antipartículas estava certa seria a não existência do Universo, mas sem o Universo como os físicos iriam abrir champanhe e comemorar?
Agora parece que o pessoal descobriu uma explicação para essa assimetria até agora inexplicável, mas sem diminuir o mistério.
Se entendi bem – o que eu duvido –, no choque entre matéria e antimatéria, a matéria leva uma vantagem, que tanto pode ser uma partícula ainda por descobrir para a qual a antimatéria não tem equivalente e que garante a sua sobrevida, quanto um milissegundo de tempo a mais para se estabelecer enquanto a antimatéria desaparece, ou vai formar um anti-Universo paralelo e nunca mais é vista.
Quer dizer, depois do choque há uma paradinha que favorece a matéria. Como se esta tivesse um juiz ao seu lado que lhe permitisse jogar com 12 ou não apitasse o fim do jogo antes dela fazer seu gol da vitória. Pense nisso: você, sua tia Gigi e as montanhas do Himalaia podem dever sua existência a uma hesitação.
A metáfora do juiz a favor pode sugerir divagações filosóficas e, inevitavelmente, religiosas. O que ou quem é esse juiz que decide pela existência do Universo em vez do nada? Se é para haver uma intervenção divina, então este é o momento para ela se manifestar.
Pode-se imaginar Deus coçando a barba diante da escolha: matéria (um Universo com todas as suas chateações, a exigir a sua interferência constante) ou a paz do vazio? E pensando: se eu não queria confusão, por que, para começar, provoquei a grande explosão? E decidindo: que vença a matéria, e que ela forme mundos, e vamos ver no que vai dar.
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